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O Escritor e Poeta Álvaro dos Reis vence o primeiro concurso de Crónicas, promovido pela Academia Internacional da União Cultural




 O Escritor e Poeta Álvaro dos Reis vence o primeiro concurso de Crónicas, promovido pela Academia Internacional da União Cultural, com imensa honra e inenarrável alegria ocupa o primeiro lugar, carregando a bandeira nacional à toda lusofonia. O concurso teve o âmbito internacional, com participação da América do Sul, América do Norte, Europa e Africa. Participaram centenas de participantes, sendo cerca de 90 selecionados para o julgamento.

De salientar que Álvaro dos Reis, foi nomeado como coordenador da Academia União cultural para a cidade de Maputo.  

A Academia Internacional da União cultural é uma Instituição nos mesmos conceitos do Movimento União Cultural, diferenciando apenas na forma pela qual é regida, comportando associados efetivos e correspondentes, sem número restrito de Académicos ocupantes. Tendo como objectivo a união dos diversos ramos da atividade humana, sejam profissionais, artísticos, culturais, filosóficos, etc, e a troca de informações culturais, tradições, informações gerais, entre pessoas de diversas localidades, de culturas distintas.


Aparição 


O silêncio infestava os meus aposentos. Ouvia-se a sua música nas vísceras da minha alma e, na distância, os passos dos notívagos descansavam em meus ouvidos. Na mesinha do centro do meu quarto, folhas com versos intermináveis. Poemas incompletos. Livros por ler e folhas por devorar.

Era meia-noite e, as minhas pálpebras pesavam-me todos os cansaços das mazelas do fado. Os ponteiros do relógio na parede, moviam-se como carris nas ondas dos meus ouvidos. Na cabeceira da cama, um retrato da amada, que vela pela minha inspiração e pelos sonhos que carrego nos meus ombros.

A madrugada se aproxima vagarosamente como a nuvem no baloiçar dos ventos. Não sinto meu corpo. Meus sentidos são incertos. Meus movimentos inertes. Permaneço ali sentado. Na velha cadeira de madeira, onde meu Avô chorou pela primeira vez. “homens também choram. Homens também amam perdidamente”. Pensei em delírios nas suas palavras. Quando de súbito, uma luz transcendental irradiou da janela do meu quarto. Que visão magnífica. Porém, eu não conseguia me mover, nem falar. Um medo repentino me assombrou até a medula dos meus ossos. O coração batucava como a orgia das danças dos nossos deuses de África. 

Na luz que irradiava e que iluminava a velha cadeira de madeira e, a mesinha dos meus versos incompletos, eis que surge dela, como o desabrochar de uma flor, uma bela mulher. Seus olhos claros castanhos, seus cabelos cacheados caracóis, seus quadris desenhando o continente Africano no oriente…

Sem sentidos e com a alma trémula, observei quase forçadamente aquela beldade repousando em minha cama, tal como a noiva que seduz o seu amado na lua-de-mel. Meus olhos entreabertos pelo peso das minhas pálpebras que desejavam enamorar a iris, vi ela distante, como quem observa um feixe de luz no fundo do poço. Tão real e viva. Vi suas mãos acenando, num gesto chamativo. Bailava como se aos deuses venerasse em seu próprio corpo. De repente, ela se aproxima vagarosamente e toca-me a face. Precipitadamente, tento tocar seus seios. Um copo cai e quebra-se. Os olhos abrem-se completamente. Os sentidos ganham vida. Observo a cama e, vejo-a intacta. Olho para a janela e, a mesma permanece fechada. Os poemas na mesinha inacabados ainda. Bebo um copo de água. Sento na velha cadeira, pego uma folha e na caneta e escrevo: APARIÇÃO…


Álvaro dos Reis



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