O presente texto pretende traduzir pequenos fragmentos espalhados nas areias receptivas da oficina literária organizada pelo Projecto Tindzila – Inharrime, na plataforma virtual whatsapp com o seguinte tema "COMO A VOZ SEGURA A MÃO DAS PALAVRAS", ministrado pelo escritor e poeta Jaime Munguambe, sob moderação da poetisa Teresa. Impera-nos, nestas entrelinhas indagar sobre o percurso do orador.
Afinal quem é Jaime Munguambe?
Jaime Munguambe, faz parte da nova geração dos escritores moçambicanos com o seguinte percurso literário:
Foi editor da página de poesia na Revista Literatas e tem colaboração dispersa em espaços de divulgação literária, em Moçambique, Portugal, Brasil, Angola, México, Espanha, Argentina.
Em 2015 foi vencedor do Prémio Literário do Banco de Moçambique na categoria de poesia.
Publicou em 2016 o seu primeiro livro de poesia "As Idades do Vento" pela editora Fundação Fernando Leite Couto.
Em 2020 participou no livro "Contos Crónicas Para Ler em Casa".
Actualmente é colaborador e correspondente do projecto Biblioteca Popular del Barrio Gardel (Argentina).
O palratório teve o seu início por volta das 18h em ponto no grupo virtual do Tindzila, no dia 11.07. 2020, onde a Teresa o convidou a expor os pontos introdutórios com a seguinte nota: Quando pensamos em palavras num poema, recorremos a capacidade que as mesmas tem de colorir com subtileza emotiva a poesia (…) Para dar início a nossa conversa, cujo tema central é: COMO A VOZ SEGURA A MÃO DAS PALAVRAS, convidamos ao Jaime Munguambe, para tomar da palavra (Moderadora Teresa Álvaro).
Parte I
Antes de qualquer enunciação verbal sobre tema, queria agradecer pelo convite que recebi para realizar diálogo-oficina (fusão crida pelo orador) (…) parabenizar a todos por esta iniciativa nobre que visa inundar com sabedoria as luzes da literatura aos olhos de mais gente. A literatura, esta arte universal, milenar e histórica.
Amigos de Tindzila, por coincidência ou não, tenho uma forte ligação ancestral com nome Tindzila, os meus pais são de origem Chopi e essa palavra sempre percorreu os solos e as alavancas da minha infância. Tindzila significa caminhos na língua de meus pais, como sabemos, onde há caminhos, há palavras, há homens, há mulheres e crianças que falam e fazem de mundo um lugar conhecido e desconhecido.
Olhando para o tema "Como a voz segura a mão das palavras", penso que é uma provocação, e essa provocação vem activar os disjuntores da nossa imaginação. Como a voz pode segurar a mão das palavras? Será a voz um corpo solitário em busca de companhia e segura a mão das palavras para um evento, uma acção ou acontecimento? A poesia é feita de quê? De palavras ou simplesmente elas existem e, não conhecem a poesia, e a poesia não conhece as palavras?
Essas questões que faço são meio filosóficas para a gente gravitar em torno deste tema, que é um tema que nos dá essa grandeza da imagem, por exemplo, quando alguém diz alguma coisa nós imaginamos, quando alguém fala e a voz sai poderosamente da boca e habita o espaço exterior do corpo há nesse movimento humano que a voz segura as palavras, ao que cito Reiner M. Rilke (…):
As coisas não são dizíveis e compreensíveis como normalmente nos levam a acreditar, a maior parte dos acontecimentos são indizíveis e incompreensíveis e ocorrem num espaço onde jamais nenhuma palavra penetrou. Estas palavras de Rilke foram bem costuradas e elas são uma sombra fresca para o verão da nossa escrita nesses tempos e nos tempos futuros.
Quando alguém diz pão, eu imagino o pão que como e cada um imagina no pão que come. Quando diz passado, cada um imagina no seu passado (…). Se o presente fosse um corpo humano mostraria as suas costas ao passado, é uma questão interessante que eu vejo nisso. Quando alguém diz futuro, muitos jovens imaginam riqueza material e os que são mais crescidos imaginam os dias da velhice ou da morte.
II
(…) O Texto de Júlio Bicá assinado de Elton Rebelo, foi extraído do livro Nhandhayeyo, que significa Grito de socorro, na língua shangana, na zona sul de País, diz uma coisa interessante. O texto retrata as vivências, as dinâmicas sociais de Inhambane (…) apresento-vos o texto para que entrem nessa atmosfera de palavras iluminadas, de uma poesia autêntica (…):
A noite tremelicava, o céu por cima era um cinzento escuro e as estrelas cintilavam timidamente contrastando com o negro das águas de mar de onde partia o caminho aberto pelos reflexos dos raios da lua, estava tudo sereno. Matxokwane e Matilidane olhavam para essa beleza e ganhavam a noção da grandeza e poder da noite. A imensidão das coisas nocturnas fazia-os sentir entre seres fatigados e tristes. Aquela noite dava medo de ser homem, sentido-a a estremecer, aconchegou-a a si, o silêncio continuava a correr na asa da noite.
Eu quando li esse texto na minha adolescência, ou melhor, no palco da minha adolescência, eu senti algo diferente em mim, começou esta veia de escrever porque encontrava textos nos jornais que não traziam essa língua fora de tempo, fora de espaço como diz H. Hélder, trazia as coisas de forma mais sólida… as coisas que são materiais, o autor conseguia materializar em palavras. Quando ele diz "A noite tremelicava"…! Será que a noite treme? "(…) as estrelas cintilavam timidamente"…! Essa timidez das estrelas, como é?
(…) o céu em Inhambane tem muitas estrelas, é claro que, em Maputo também tem muitas estrelas e em qualquer parte de mundo o céu tem muitas estrelas, mas em Inhambane, o céu parece ter muitas estrelas por causa da falta da luz artificial (energia eléctrica). Eu gosto muito dessa ideia que ele traz…essa noite na verdade ela sempre vai existir na história (excerto acima).
E outra coisa muito interessante, é que há palavras que nos puxam, fazem de nós outras pessoas. O que eu gosto nessa escrita de Júlio Bicá, assim como em outros escritores que gosto de ler, é que eles têm a capacidade de me fazer esquecer dos problemas que vivo, problemas de meu país, problemas a nível da família, a nível relacional. Quer dizer que o texto arrebata-nos, tira-nos de espaço de conflito e nos coloca no espaço de terapia, de reflexão.
(…) Em conversa com Otildo, perguntava-me: "eu percebi que o teu livro tem muitas imagens, tu usas muita personificação como é que tu explicas?" Dizia a ele que não sei explicar isso, não consigo explicar um poema. Explicar um poema, na verdade é "desexplicar" a criação do poema. Porque, os textos em livros, eles não sabem que são textos, nem os livros sabem que tem textos dentro de si, e é esse pensamento que cultivo baseando-me em leituras, percebo isso hoje. Há um texto que eu escrevi falando disso que os textos não sabem que são textos, nem sabem que estão em livros, os livros também não sabem que são livros e que tem textos dentro de si (…)
Mas o que nos faz estar aqui é a ideia da imagem, o poder da imagem na escrita: Como a voz segura a mão das palavras. Quando estivermos a conversarmos de forma física nós percebemos que a voz segura a mão das palavras porque não conseguimos separar as palavras da voz, há quem diga que um grito não é uma palavra, uma palavra na verdade pode ser mais do que uma palavra (…) quando se faz o teatro, eu vejo o palco como uma página de um livro e os corpos dos actores como palavras, são palavras que criam histórias e fazem-nos reflectir, o que é muito interessante.
III
Penso que é fascinante a imagem na escrita ou é interessante a escrita na imagem, pois ela é recorrente no meu processo de criação como escritor. Convertemos as imagens que passam no palco da imaginação em palavras, mas por vezes as imagens negam as palavras, temos de lutar até conseguirmos vestir as imagens nas palavras. H. Hélder, escritor Português, no livro Magias, diz uma coisa muito interessante que se liga a imagem-escrita, ou seja, escrita-imagem. Ele diz que:
(…) há uma língua fora de tempo, fora de espaço, a língua que se fala eternamente e se sabe esperar por nós, aparece quando já não se esperava…é assim a poesia, este fenómeno inesperado, vulcânico, temos de ver mais do que a realidade se nos mostra, no palco da realidade existem sempre os bastidores, onde reside enigma, o mistério, que são esses espaços onde os poetas vagueiam, percorrem e buscam novas possibilidades de pensamento, de conhecimento, de beleza e novas possibilidades de vida (…)
Tratando-se Tindzila de um Projecto que, se liga Inhambane para o mundo, eu seleccionei um texto de um escritor que eu gosto muito e para mim, é o melhor escritor a nível de prosa em Moçambique, a nível de descrição poética, o nome dele é Júlio Bicá, assinava o livro com nome de Élton Ribeiro, nome do filho, eu acho muito interessante a criação do Júlio Bicá, que era jornalista na TV de Moçambique (TVM), li-o sem saber que se tratava de alguém que o ouvia na TV, quando andava na 10ª classe, ainda adolescente e não que seja velho agora, ainda sou adolescente para sempre, criança para sempre, pois carregamos criança dentro de nós, adolescente, jovem…
(…) queria fazer uma provocação para discutirmos a questão de elaboração textual. Eu, quando digo noite toda gente imagina estrela, imagina lua, imagina escuridão. E, quando digo esperança o que cada um imagina?
Eu gostava que, quem ouvisse o áudio, escrevesse uma coisa que aparece à primeira, no palco da imaginação.
Quando digo, esperança, sabedoria e origem, gostava que todos os membros do grupo escrevessem aquilo que aparece na mente em primeiro momento na nossa imaginação (…) acho que seria interessante esta criação de um texto baseando-se naquilo que aparentemente é imaterial mas que pode ser material, baseando-se em Rilke: há coisas que são indizíveis, incompreensíveis que ocorrem no espaço onde jamais nenhuma palavra penetrou e essas coisas, sim, podemos materializar, eu acho que podemos, sim, dizer cada um de nós neste grupo, o que aparece na nossa mente quando alguém diz esperança, sabedoria e origem.
Abaixo leia as contribuições dos participantes da oficina em relação ao exercício, desafio colocado por Orador:
Esperança, eu vejo dinheiro.
Sabedoria - cultura e arte
Origem - a casa dos meus avôs.
(J. Mocumbe)
Esperança - Jesus
Origem - Génesis
Sabedoria - temor ao senhor
(Chir)
Esperança
O sol que morre e retoma o trono astral
Sabedoria
O poder mental que é concedido a poucos
Origem
A corda que nos une a algum solo
(Otildo J.)
Esperança : o mundo vai voltar, sem guerras, sem ganância, repleto de amor, felicidade, para todos.
Origem: as nossas origens apagadas, esquecidas
(Jaime Cristal)
As palavras podem ter a capacidade de ser um anestésicos para as dores da vida, logo quando ouço esperança, imagino "tudo vai ficar bem", sabedoria me faz pensar na busca por soluções para a vida baseadas em Deus, origem me faz pensar " África, o berço da humanidade, a origem da própria sabedoria"
(Teresa Álvaro)
Esperança= Daniela (minha eterna pretendida)
Origem= (minha mãe)
Sabedoria= meu avô (que Deus o tenha
(Erickson S.)
Esperança= Não aparece nada
Origem= Sacrifício
Sabedoria= conversa
(Phayra Baloi)
Esperança = superação
Sabedoria = distinção do útil e agradável
Origem = Moçambicanidade
(António Siquice)
IV
Nesta mágica conversa interactiva, o orador retoma a palavra perfilando a sua ciência nos solos da literatura, desvinculando a endoderme a começar da epiderme da palavra:
Interessante, percebo a partir dos vossos comentários que a palavra é um mundo onde nós vivemos. A palavra esperança tem significado sagrado para cada pessoa, imaginem quem está numa situação de reclusão? A palavra é um mundo onde nós vivemos e por isso temos de prestar atenção no significado de palavras para nós. E não para o que a lei dos linguistas estabelece...
Existe um significado particular, diria uma ilha de criatividade poética, este território é aberto aos que observam o outro lado da realidade, é um território próprio dos poetas.
A ilha na qual me refiro é aberta ao mundo, aos sensíveis a realidade, não é uma ilha privada e exclusiva. Se quiseres ser um poeta basta saber olhar as palavras e perceber que nós somos elas e podemos ser poemas, contos e outros géneros.
Para descobrirmos como é o outro lado da realidade, temos de ler, entrar no mundo dos que criam e fazer o refrão, daí dominaremos a canção se tivermos o talento, que eu chamaria de sensibilidade, não podemos colocar o ganho financeiro em primeiro plano, mas o ganho espiritual, o equilíbrio interior, as asas da paz.
V – FASE DE INQUIETAÇÕES
Indagar é arte. É um processo que parte de dentro do questionador, arrastando o objecto da indagação propriamente dita até âmago do indagado. Cabendo a este nutrir, digerir ou assimilar a pergunta mediante o contexto a fim de curar a inquietação do indagador. O desejável é que se cure, se apague as duvidas e inquietações daquele. É preciso que haja coro entre a pergunta e o contexto. Mas antes de perguntar é preciso voltar a si e pesar a magnitude da questão e, decidir a sua saída ou retenção.
Por isso, nesta fase, lhe apresentamos algumas indagações, sugestões dos nossos participantes diante de orador. De referir que, preferimos ressalvar a veia autêntica das falas do orador, contudo alguns aspectos que se julgou necessário foram removidos a fim de se oxigenar e enriquecer o texto. Por exemplos, os mudismos (ééééé…humm…eeeee…):
E em que margem o poeta fica entre a imagem e a própria personificação. Como fazê-la ganhar vida? (J. Mocumbe)
Resposta de Orador: Quando um artista plástico pinta os seus quadros, por exemplo João Timane, ele pode não saber em que corrente inserir a sua pintura, se faz parte de renascimento, realismo, enfim. Ele, até pode dizer os nomes, mas há pessoas com mais legitimidade para isso, que são pessoas com embasamento teórico e científico. O escritor quando cria, não olha para figuras de estilo no sentido de que no primeiro verso quero fazer um texto que tem duas imagens, no terceiro verso quer criar uma metáfora, no último verso quero fazer epistrofe e depois tem usar aliteração, impalas, ele não olha mais para essas figuras, ele criar, olha para vida dele, olha para aquilo que acontece a volta porque a poesia é essa criação que é resultado daquilo que nós observamos, aquilo que nós tocamos, aquilo que rodeia o nosso corpo. Por isso que eu disse em algo anterior que o nosso corpo é uma antena. Aliás, tem um livro de Rui Knopfli que acho que devíamos ler "Corpo de Antena". Acho que é um livro que vem a responder muitas questões sobre como é que escritor cria os seus textos.
Me parece que as palavras têm um grande poder, elas podem ser usadas para o bem, mas também em línguas laminadas podem causar dor. (Teresa Álvaro)
Resposta de Orador: As palavras devem ser ditas e de certa forma é preciso deixar a mente livre. (…) Quando peguei o livro de Saramago "Caim" (…) certa forma Saramago, para quem é cristão, ele ameaça a fé, destrói, digamos ele luta com tua fé. Tu lês "Caim" e te encontras num embate entre tua fé e aquilo que Saramago escreve. No fundo há palavras que podem ser maldosas para alguns e boas para alguns e, ai entramos no espaço naquele ditado que diz tudo é relativo, olhando nesse sentido.
Para descobrirmos como é o outro lado da realidade, temos de ler, entrar no mundo dos que criam e fazer o refrão e daí dominaremos a canção se tivermos o talento, que eu chamaria de sensibilidade, não podemos colocar o ganho financeiro em primeiro plano, mas o ganho espiritual, o equilíbrio interior, as asas paz. (Jaime de Cristal)
Resposta de Orador: Quando escrevermos temos de pensar não exactamente na produção financeira, mas sim na produção espiritual (…) temos de viver o texto, o que significa estabelecer nossas próprias leis no texto, por exemplo como é que o texto deve estar. Porque estamos escrever aquele texto? Quais são as nossas preocupações? Mas não preocupações no sentido de resolver algo na sociedade, as nossas reflexões (…). A questão financeira, nós temos de estudar, sermos criativos, sermos empreendedores (…). Um escritor, principalmente poeta, ele escreve um género das minorias, então a poesia é um género das minorias, estaticamente há pessoas mais lendo romances que poesia, olhando as conversas que tenho tido com os meus estudantes (…) Acham a poesia algo muito chato, muito difícil de perceber, então só precisam de ferramentas para tal.
O que a lei da Linguística estabelece? (Brito Baptista)
Resposta de Orador: A lei da linguística estabelece um turbilhão de regras, que são regras gramaticais. Sabemos muito bem que é preciso dominar a morfologia, sintaxe, o léxico, mas depois de dominar isto, é possível criar ou inovar a própria língua,…por exemplo, nós podemos ler Mia Couto, percebemos que ele cria os seus neologismos, cria seus títulos suas palavras, temos o exemplo, vintizingo, jeruzalem,(…) podemos ler também escritor angolanos Luadino Viera tem esta capacidade de criar palavras, olhando as palavras que já existem. James Joyce, também fazia isso de lá de Estados Unidos de Américo. É preciso de certa forma recriar palavras e os escritores fazem melhor isso, e no fundo as regras gramáticas são influenciadas pela dinâmica da fala social, isto é, porque a língua que falamos muda com tempo de acordo com contexto histórico, e nós somos a mudança da gramática e do próprio dicionário. É preciso perceber que as regras gramaticais não surgem antes da sociedade, a sociedade surge depois temos a criação dessas regras, essa lei da Linguística.
E se a palavra é o pódio de vento que todo indivíduo quer assegurar, há um limite para se voar? (J. Mocumbe)
Resposta de Orador: (…) acho que nós dependemos de género a que fazemos, imagina, por exemplo, se está a escrever um livro para uma criança, estabelecemos certos limites, temos ali a pedagogia, pois temos de olhar como é que a criança vai receber o livro, aquela história, poema. Acho que nesse sentido temos que ter limites, porque o texto de carácter infantil constrói a criança, enfim.
Há textos em que existe essa liberdade de criação que já não há esses ditames, cláusulas que podem nos prender e não falarmos daquilo que nós queremos. Se nós formos a ler E. White vamos perceber que ele extravasa as fronteiras da liberdade. Ele é escritor imensamente contundente, muito forte, fala tudo o que aparece na sua imaginação. Ele tem uma imaginação muito fértil, digo que ele tem, porque E. white nunca vai morre. Um escritor nunca morre, está sempre entre nós porque as palavras estão lá (…) As palavras são carne e osso, são o sangue que corre (…) e nós temos essa imaginação muito fértil.
E falando no sangue que corre, estou aqui a imaginar um cenário: o sangue corre nas nossas veias e tudo que corre provoca um som e, é uma pena que não podemos ouvir o som que o nosso sangue cria, mas podemos cria por meio de um poema (…) Qual é a música que o sangue faz ao correr nas veias? Qual é a música que os ossos fazem quando nós estamos a caminhar na rua. São esses elementos que os poetas buscam e criam textos. Então, há uma necessidade de lermos muito, mas muito mesmo, ler tudo, todos os géneros, contos, romances, poemas, etc. Nós temos que ter essa vontade, essa característica de pessoas incansáveis quando vê uma palavra, vê um mundo.
Vou enviar um texto de autor, escritor de Virgílio de Lemos, vamos desconstruir esse texto, vamos discutir o que é que ele queria dizer, na verdade um dia descobriremos que não sabemos o que ele queria dizer (…).Temos que estar a fazer uma sondagem, desconfiarmos, será que ele quis dizer isto, acho que quando fazemos uma análise textual temos de fazer perguntas e não afirmações porque as vezes o texto não tem fim, não é finito, o texto é sempre um ser infinito, porque nos dá muitas possibilidades:
Autor: Virgílio de Lemos.
Segue-se abaixo a imagem da capa do livro de onde o extracto poemático acima foi extraído.
Nota de Orador: Não compreendo muito bem a escrita de Virgílio de Lemos, honestamente.
O poeta Otildo J. considera que o texto de Virgílio de Lemos fechou, (Para mim, o poema fechou) ao que sublinha que "Não há Vagas", citando F. Gullar (poeta e escritor brasileiro):
Não há Vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
(Ferreira Gullar)
NOTAS FINAIS DA OFICINA:
Transpassamos a locução da moderadora Teresa Álvaro:
A conversa está um pote de mel, chegado a essa hora, talvez nós questionemos, que idade tem o tempo? Estamos mesmo na recta final da nossa conversa, desta feita, convido ao Jaime Munguambe, para tomar da palavra de modo a deixar ficar as considerações finais.
Considerações finais do Orador: Na escrita não compreendo na completude, mas sentimos o poder da palavra que é o mundo, o mundo que nós somos.
O tempo tem a idade da eternidade, da história da humanidade, tem a idade das injustiças que assistimos todos dias, o tempo tem a idade do sonho que é o que nos torna sobreviventes da esperança.
O que virá depois talvez seja insignificante. Passado, presente e futuro, talvez sejam apenas trilhos por o tempo se embala.
(…)
O mundo torna-se meu,
Quando ponho a caneta em acção
quando descarrego toda as loucuras ao papel
Ah, que bela conexão,
Fazem as palavras
que retiram de mim o senso da razão.
NOTAS DOS PARTICIPANTES:
Desisto, ser poeta é um percurso longo da insatisfação satisfatória.
(…)
E inda, a mão que segura o presente é uma pulga que se alheia a tudo (J. Mocumbe).
ORGANIZAÇÃO:
Projecto Tindzila
(Recolhido por Jeremias F. Jeremias)
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