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Dona Rodália - Alerto Bia

imagem  Fazia meia hora que o pai, cotovelos sulcando a mesa, apoiava o queixo as palmas das mãos, devia estar a dormitar por detrás daquelas lentes graúdo límpidos de espessura ínfima, espreguiçou-se, bocejando e disse: “o amor é ter com quem nos mata lealdade”. Ficara assim à mesa das refeições depois de almoçar.  Vezes sem fim, minha mamã, andava desconfiada daqueles poemas que meu pai andava escrevivendo.  – Quero ser poeta, mulher – se desculpava o pai, como se ser poeta fosse um querer.  Mamã ouvia com cara trombuda. Nunca acreditara nos ditos de poetas. Dizia ela, para além de eles (poetas) serem fingidos, sempre tem uma musa misteriosa.  Naquele dia, quando achou o papiro de versos na orla do prato que papá tomara o almoço, concluiu que escrevera para a secretária da casa, dona Rodália.  Quando mamã chegou a casa, fazia dez minutos que papá retornara ao serviço, e dona Rodália não tirara o prato, ainda.  Mamã pensou, dona Rodália andava em cima do seu homem.