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Gwanu metamorfoseado em Homoine

  Aos lavradores das letras: Muail, A Bia, JM, Jeremias Jr, G. João, Rapariga Silenciosa (A luz), e outros Alguém não devia ter falado que quebrar um vidro transparente, seja prato, copo, janela ou espelho traz muito azar. Mas o velho que chegara recentemente não se dera o luxo de esconder isso de JM quando se aproximara para recolher os cacos do segundo copo quebrado. Ninguém ouviu ou vira o velho a segredar isso ao JM senão a mudança repentina do comportamento de JM. O Velho não tirava o olhar em nossa mesa.Ele fazia o serviço de varredura. Assobiava o tempo todo se passava era para rir dalgumas piadas nossas. Pelo seu jeito inclinado para frente quando se desloca, parecia vencido pelaidade. Os seus olhos ostentavam a cor vermelha como se tivessem sidos injectados o sangue. Os calcanhares das calças se ameaçavam rasgar e uma ligeira cor de leitese vislumbrava nas pontas. _Droga, cadê a Gina? — Sussurrava JM com ar de preocupação. Alguma coisa lhe aflige, será o copo quebra ou

OS MÚSICOS

 por: Luiz Eudes Acabara de sair da Faculdade de Ciências Econômicas na capital baiana e voltara para a sua terra natal, abandonando os sonhos dourados e os arrojos da juventude, tendo que ir enfrentar o dia a dia em busca da sobrevivência. Seu pai possuía uma fazenda e para lá lhe designou. Administrar uma propriedade rural não era exatamente o seu objetivo de vida, mas tinha que ganhar algum dinheiro. Alguns meses depois o prefeito o convoca para uma audiência. Propôs-lhe cargo de secretário, o mais importante na gestão, e lhe permitiu morar em uma casa que possuía na cidade a título de ajuda de custos. Ocorre que todas as vezes que aparecia na prefeitura alguém para realizar qualquer trabalho, o prefeito o enviava para se hospedar na “casa do secretário”. No início considerou estranho aquilo, pois era obrigado a conviver com desconhecidos. Com o tempo descobriu que poderia tirar algum proveito da situação, pois sempre eram pessoas de boa índole: contadores, auditores, delega

O PRESÉPIO

  Luiz Eudes é de Sátiro D ias, Bahia -Brazil. Colunnista convidado A tarde vai embora lentamente. Um homem, acompanhado da sua filha, para o carro na praça. Há moças na calçada de uma casa, uma delas os convida a entrar e ao abrir a porta da sala um mundo encantado surge num momento mágico: é o presépio que há muitos natais faz brilhar de encantamento os olhos das crianças. A lapinha foi criada para homenagear o Menino Jesus e a alegria da sua criadora é receber as crianças que todas as noites de dezembro visitam a sua casa e, atentas, observam o músico anunciando por seu tambor a chegada de Papai Noel. No presépio há um convívio fraternal do animado gorila com o pacato burrinho, do cantante pássaro azul com as silenciosas borboletas, dos peixes e cobras que, de longe, miram os animais sagrados: a vaca e a ovelha, o galo e o jumento. É noite de Natal e no centro de tudo está a representação do nascimento de Cristo. O presépio é montado seguindo uma tradição iniciada por São Fr

TARDE DE CHUVA

  De:   Luiz Eudes é de Sátiro D ias, Bahia. Todas as tardes o menino visitava o avô, ao final de mais uma jornada de trabalho, procurando aconchego em seu colo e ficavam ali brincando os dois, avô e neto, horas a fio. Depois o avô cantava com voz suave em meio tom e aquela harmonia o fazia adormecer pendurado no pescoço dele, segurando a sua orelha e mordendo levemente o polegar. E o avô o levava para a cama, para os sonhos de criança. Parecia mais um final de tarde como outro qualquer. Crianças andavam na praça, árvores balançavam folhas secas, uma dona de casa levava compras para o preparo do jantar, homens conversavam alegremente. A umidade do ar anunciava chuvas de verão. Algumas pessoas acreditavam que até o final da semana choveria. De repente nuvens negras encobriram a cidade. Relâmpagos iluminaram os céus, ventos sopraram fortes e trovões ecoaram ao longe. Uma chuva torrencial caiu sobre o solo.   Senhoras procuravam abrigo, crianças corriam em divertida brincadeira,

Algures no céu, despois do “calvário e cruz”

Aos meus amigos da boémia (J.F, H.M, J.C, M.C,) e à nossa única mulher Brígida A Brígida, essa mulher de modos muito reservados, trouxe-nos as garrafas de cerveja deitadas na bandeja. Despertou-as à mão, uma a uma, como uma mãe que arranca o filho do sono. Em pé, no centro da mesa amarela de plástico, as garrafas pareciam freiras surpreendidas por um anjo a cochichar sobre a ousadia de judas. Era já noite.  As horas corriam no pêndulo. As ruas adormeciam. Nenhum cão, nenhum larápio, nenhuma alma ou doido a restolhar descartáveis no contentor enferrujado, mas alguns carros sacolejando no asfalto com hematomas.  Estávamos sentados numa esplanada recém-erguida, o capim ainda fresco, a cheirar a seco e a húmus. De quê conversam os artesãos das palavras, essa duras pedras com a profundidade de poço, quando se encontram? Talvez falem de tudo e menos construir um castelo de silêncio.  O H.M ajustou os óculos no rosto e agarrou a quinta, a sexta ou sétima garrafa com o anzol das mãos; roscou a

POR QUE ESCREVER?

  — Por Ericson Sembua                Há dias, o escritor e historiador Baltazar Gonçalves publicou, na coluna Nossas Letras do jornal GCN , o resultado de uma pesquisa que fez acerca das respostas de autores e autoras consagradas sobre o acto de escrever. Dada sua correspondência com escritores e escritoras de língua portuguesa, recebeu a leitura, análise e respostas do escritor moçambicano Ericson Sembua , ele que tem textos publicados na antologia TANTO MAR ENTRE NÓS: DIÁSPORAS organizada por Baltazar Gonçalves e à venda no site da Editora Kotter. Leia a seguir as palavras de Ericson Sembua.               Allen Ginsberg respondeu que escrevia poesia porque, entre outras coisas, gostava de cantar. Em contrapartida, Manuel Bandeira confessou que fazia versos porque não sabia fazer música. É um caso para se admitir o relativismo no concernente às razões que cada escritor tem para escrever. Algumas razões são influenciadas pela cosmovisão, outras pela tradição cultural vigent