A ideia de Perseverança em "Namoro" de Viriato da Cruz e "Quero ser teu namorado" de Célio Figueiredo
Linha de Leitura
1. *Introdução
No intróito desta abordagem importa apresentar dois artistas de dois países africanos de expressão portuguesa (Angola e Moçambique), cujos textos serão objectos de reflexão neste estudo aparentemente comparativo e que vai procurar trazer elementos de alteridade.
Viriato da Cruz é um poeta angolano (1928 - 1973). Morreu em Pequim pouco tempo antes de ver a sua pátria independente. Na sua poesia ele procura a identidade africana.
Célio Figueiredo é um músico moçambicano (1962). Descobre-se influenciado por amigos que tocavam muito bem e a paixão pela música romântica começa pela trova cubana de intervenção social, por exemplo, na de Pablo Milanés.
2. *Perseverança
Perseverança é um termo que está muito associado à ideia de foco, luta e fé. Acredita-se que sonhando, lutando e persistindo pode-se chegar ao Sonho que se é projectado.
O livro mais lido do Mundo, a Bíblia, é um exemplo concreto de episódios que nos remetem à ideia de perseverança, bastando ler, só para fazer alusão, à história de Jacob quando suava durante anos para ter a Raquel (Génesis 29, 20-30). A persistência.
3. *A ideia de Perseverança em "Namoro" de Viriato da Cruz e "Quero ser teu namorado" de Célio Figueiredo*
3.1 *O ritmo*
Esses dois textos possuem ritmo. O ritmo caracteriza-se pelo tempo, pelo movimento e pela continuidade, que produzem o chamado prazer estético.
Quer no poema de Viriato da Cruz quer na música de Célio Figueiredo, o ritmo alcança toda a sua integridade, de base essencialmente sonora. Sabemos que são duas artes distintas e que dialogam: a arte musical e a arte literária.
O poema "namoro" já adaptado ao canto por Fausto, ele funde-se inextricavelmente as massas sonoras e as palavras. Enquanto a canção "Quero ser teu namorado" gera musicalidade acusticamente deleitável. E a Literatura Oral tem subsídios nessas simbioses todas.
Podemos inferir que o ritmo é congenial à Poesia, da mesma forma que à Música.
3.2 *"Namoro" de Viriato da Cruz e "Quero ser teu namorado" de Célio Figueiredo: elementos de intertextualidade.
Pelos títulos dos dois textos há algo em comum: o desejo veemente de namorar. Dois sujeitos querem namorar. E para isso, ambos são perseverantes. A *perseverança, nosso mote nesta linha de leitura.
Em "Namoro" de Viriato da Cruz há um sujeito chamado Benjamim que tem a pretensão de namorar uma mulher. Para tal, ele manda uma carta, manda um cartão tipografado, manda recado pela Zefa do Sete, faz feitiço ao levá-la à avó Chica, oferece adereços (colar, anel e broche) e até afaga as mãos dela. Tudo para mostrar a grande afeição que tinha por ela. E no fim, dançando com ela, ele consegue alcançar a amada, dando um beijo, depois de tantas tentativas falhadas.
Notamos que Benjamim foi perseverante. Não desistiu na primeira tentativa. Nem na segunda. Nem na terceira. Nem na quarta. Foi à luta até conseguir uma resposta afirmativa.
Em contrapartida, em "Quero ser teu namorado" de Célio Figueiredo há um sujeito subentendido que tem igualmente a pretensão de namorar uma mulher. Diferentemente do texto anterior, neste o autor da canção faz alusão ao nome da pretendida: Ana. O sujeito galanteia a moça. Confessa que ela é o sol, é a poesia, é o verão e é o seu amor. Faz salmos de amor. Revela que não apanha sono por ela nas noites. Confessa também que é sonho ser namorado dela:
"Ouvi de alguns amigos que tu não tens namorado
Fiquei esperançado em poder estar ao teu lado
É MEU SONHO SER TEU NAMORADO"
Contudo, o texto termina sem dizer se esse sujeito apaixonado consegue alcançar ou não o coração da Ana. Ao contrário de "Namoro" de Viriato da Cruz. Sabemos que Benjamim deu um beijo na sua amada. Aquele "sim" para o beijo é, como sempre, a prova de amor e, automaticamente, uma resposta afirmativa para despontar o namoro.
Para o namoro, ambos os sujeitos são perseverantes.
Dá-se realce também à dança bem africana, a rumba, quando o amante consegue a resposta afirmativa da amada, ao bailar com ela, abandonando assim todos os artifícios de uma civilização alheia:
"Tocaram uma rumba __ e dancei com ela"
Em "Quero ser teu namorado" :
"Oh Ana
há quanto tempo eu quero te falar de amor
Ana
me escute por favor!"
Nota-se que esse sujeito persistia ocultamente pela Ana, mas vivia um amor platónico, demonstrando timidez e mais tarde ganha coragem e revela-se. Enquanto em "Namoro" , Benjamim é mais ousado e entrega-se facilmente e não importavam as respostas negativas que recebia. Talvez, por este factor, Benjamim teve um beijo e o texto de Viriato da Cruz constrói essa imagem. Ao passo que, em "Quero ser teu namorado" , o autor da canção deixou espaços vazios para serem preenchidos pelo público-ouvinte: não se sabe se a Ana aceitou ou não o pedido de namoro do homem que a galanteava.
Para estes dois textos de natureza romântica, eis o ponto de vista.
Por: João Baptista
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