Por: Adilson Sozinho
Uma sugestão que nos foi trazida pelo projecto Tindzila para 13.08.2023, na plataforma, WhatsApp. Conversa moderadora pelo João Baptista e tendo como oradores três estudantes universitários de Cabo Delgado, nomeadamente, Idália Bata, Gildo Malodelo e Albertino José.
Sobre a Literatura produzida em Cabo Delgado, os oradores trouxeram de forma sintética as percepções que se seguem, no entanto, antes de mais, salientar que os três jovens, são naturais e residentes em Montepuez, um dos distritos mais belos e atractivos da província de Cabo Delgado depois de Pemba. É um distrito com uma densidade populacional considerável. Foi estratégico conversar com os jovens deste distrito que alguns consideram possuir uma das maiores cidades da província, se não, a maior, deixando para trás até a cidade de Pemba.
O JB questionou à Idália sobre o estágio da literatura em Cabo Delgado, a qual se espelhando no seu distrito respondeu: “Cabo Delgado é uma província esquecida em termos de arte.”
Albertino, o segundo orador a pronunciar-se após a Idália, referenciou que “Em Cabo Delgado, praticamente não há nada. Não há debates sobre literatura, não tem oficinas literárias, não tem clube do livro.”
Questionando JB sobre o que estaria a falhar para a “inexistência” de escritores em Cabo Delgado, em resposta, Albertino avançou: “ temos escritores em Cabo Delgado, mas de forma singular”. Na sequência, nomeio um dos escritores existente em Cabo Delgado, Bene Jhon. JB, por sua vez, amplificando a lista dos escritores de Cabo Delegado, avançou os seguintes nomes: “Paulo Ngoenha” em Pemba, que publicou com Lino Mukurruza um livro de poesia, mencionou também, Dora Chipande.
No decorrer da conversa, percebeu-se que há falta de coesão para a criação/promoção de eventos que possam unir os escritores de Cabo Delegado para que sejam conhecidos na província e no país todo.
Subscrevendo, Gildo, em relação às questões acima, vincou que “a literatura na província não é tida como cultura. Esse é um dos principais motivos para o fracasso e não só, existem muitos escritores, poetas em Pemba, Mueda, Montepuez e outros distritos desta província, porém, limitam-se em escrever livros, guardar ou publicá-los nas redes sociais. Há também falta de acompanhamento a estes escritores, há falta de editoras na província” e apontou também que até a publicação das obras do Ben, ele teve que recorrer à uma editora de Maputo, e outra, da Beira.
Em meio a conversa, o co-fundador do Projecto Tindzila, desafiou os três escritores a criarem uma corrente literária, e igualmente, propõe-se a editar uma antologia poética destes pela Massinhane Edições, uma editora que vem apostando em vários jovens escritores do país.
Um dos membros do Tindzila, no decurso da conversa, questionou: “ de que forma a política torna-se um obstáculo no progresso da literatura em Cabo delgado?” Em jeito de resposta, Idália apontou que em nenhum momento a política tem sido um obstáculo, “há falta de iniciativa por parte dos próprios escritores, dos jovens, pois, acredita que, toda a iniciativa no âmbito literário pode ser bem-vinda quando apresentada as estruturas governativas locais.”
Gildo divergiu do posicionamento da outra oradora, tendo afiançado que “os políticos não gostam da verdade. A verdade é a génese do escritor, do poeta.” Para frisar acresceu que “ há uma classe com poder financeiro sem interesse na literatura, e outra, sem, pouco faz e isso contribui para a fraca produtividade no âmbito literário.” E adianta, “percebe-se que os que tem o poder financeiro tem também o poder de sensurar ou omitir a verdade”.
Ainda no início deste debate, um dos oradores salientou que faz parte dos seus planos promover encontros literários, e o único impasse, no momento, é a ocupação académica. No entanto, JB avançou a seguinte pergunta: “Os concursos literários moçambicanos chegam à província de Cabo Delgado? Chegam à vossa cidade de Montepuez?”
“ Há falta de divulgação. Os concursos não chegam cá em Cabo Delgado”, respondeu Albertino.
“Quais são as temáticas mais vulneráveis na vossa literatura?” – Questionou um dos membros.
Gildo posicionou-se abordando que “o terrorismo é uma das temáticas mais vulneráveis, o seu público é reticente”. Acredita que deva ser alvo de sensura pelos motivos que já mencionou acima.
Os oradores, que são também escritores, são unânimes em dizer que a sua literatura está também voltada para a situação actual da província. Para Gildo, parte dos escritores, nem são naturais de Cabo Delgado, “são naturais de outras províncias, são estudantes ou estão na província em serviço.”
Os oradores são unânimes em concluir que a criação de clubes literários, concursos internos, e apostar-se seriamente na divulgação, ajudaria a dar mais visibilidade e aderência. “Seria uma nova tendência e cultura, este é o desafio e que deve ocorrer com o acompanhamento de veteranos na área.” Frisaram.
No fim da interacção, Idália propôs ao João Baptista, o moderador, que fizesse o lançamento da sua obra em Cabo Delgado! Ele mostrou-se refém de sua editora, dizendo o seguinte: “São questões editoriais. A minha editora brasileira é que pode reagir à sua provocação, mas eu aceito lançar Águas Cristalinas em Cabo Delgado, com muito gosto.”
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