URGÊNCIA
É urgente inventar novos atalhos.
Acender novos archotes
e descobrir novos horizontes.
É urgente quebrar o silêncio,
abrir fendas no tempo
e, passo a passo, habitar outras noites
coalhadas de pirilampos.
É urgente içar novos versos,
escalar novas metáforas
recalcadas pela angústia.
É urgente partir sem medo
e sem demora.
Para onde nascem sonhos,
buscar novas artes de
esculpir a vida.
.......
OS FAZEDORES DE PROMESSAS
Como destilar verdades
nestas palavras com odor de mofo?
Até eu poderia emprestar-lhes um ar de sândalo
não fosse a febre noturna dos búzios.
Há muito que os fazedores de promessas
emigraram sem que ninguém os lembrasse
dos gestos obscenos deixados para trás.
Quantos sonhos cabem numa palavra?
Quantos sonhos cabem numa cabaça?
Diziam-me que o mundo era uma pertença de todos.
E enganaram-me quando não acreditei.
Pois as palavras já não enchem a panela de barro.
Só o inverno sabe o quão é difícil
suportar as folhas caídas nas estepes.
Mas nenhuma ausência os entristece?
Nem mesmo a dor que os alucina.
.....
CHEGAR E PARTIR
Como o Zambeze que corre
nas ribas da terra alheia,
Deslizo na geografia do teu nome
Com pressa de nunca chegar.
Mas o odor de neblina
e a calidez desta noite
lembram-me o eterno destino
de chegar e partir.
.....
(As laudas da solidão)
Cítaras e marimbas
No coração sangrado.
Inevitável é o adeus
Na aba da noite.
Poemas ditongais
Vão gotejando nas páginas
Da solidão. Cacimba.
Armando Artur
Armando Artur João (Alto Molócuè, Zambézia, 28 de Dezembro de 1962) é um poeta moçambicano.
Fez em Alto Molócuè os estudos primários. Realizou os estudos secundários em Lichinga e Beira. Estudou e abandonou o Instituto Industrial de Maputo.
É membro fundador da Associação Pan-africana de Escritores (PAWA), da qual é representante para Moçambique. Foi Secretário-Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos. Depois de ter sido Vice-Presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa exerceu igualmente o cargo de Ministro da Cultura de Moçambique.
Possui obra dispersa em revistas literárias, livros didácticos, antologias e jornais nacionais, e outra traduzida e/ou publicada pelo mundo fora.
Obras
Espelho dos Dias (1986);
O Hábito das Manhãs (1990);
Estrangeiros de Nós Próprios (1996);
Os Dias em Riste (2002) – prémio Consagração FUNDAC;
A Quintessência do Ser (2004) – Prémio José Craveirinha de Literatura;
No Coração da Noite (2007);
Felizes as Águas (antologia de poemas de amor);
As Falas do Poeta;
A Reinvenção do Ser e a dor da pedra (2018);
Muery – Elegia em Si maior (2019);
Carreira
Foi Vice-presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa;
Foi Ministro da Cultura de Moçambique.
É Doutor Honoris Causa em Filosofia da Arte e Literatura pela Cypress International Institute University.
Fez parte do Movimento Literário Charrua.
Possui obra traduzida para o Inglês, Francês, Alemão, Finlandês, Sueco, e Árabe.
Foi membro da Comissão Nacional do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP).
Prémios
Prémio Consagração Rui de Noronha (FUNDAC) 2002;
Prémio Nacional de Literatura (2004).
Prémio BCI de Literatura (2019).
Comentários
Enviar um comentário
Edite o seu comentário aqui...