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Na primeira quinzena de Maio, Tindzila vai conversar com o poeta Armando Artur 🇲🇿

 Na primeira quinzena de Maio, Tindzila vai conversar com o poeta Armando Artur 🇲🇿


Em tudo é preciso uma troca de experiências entre as gerações. Moçambique é um país de matriz oral e muitas histórias de tradição oral são passadas às novas gerações. É, pois, nesta lógica de pensamento, que o Projecto Tindzila propôs ao poeta Armando Artur um mote para conversa:


Literatura Moçambicana: geração antiga à nova geração de escritores moçambicanos.

- Passagem de testemunho


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Este tema surge, sobretudo, pelo facto de Armando Artur estar a solenizar os 35 anos de percurso literário. A nossa pretensão é celebrar com ele, aprender sobre Literatura Moçambicana, aprender a superar os desafios e os empecilhos e colher muitas experiências.


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É preciso, sim, que as gerações dialoguem. Sempre. 


O escritor e crítico literário Lucílio Manjate publicou, há alguns anos, um artigo intitulado "Narrativa e Moçambicanidade: uma ponte possível de afectos entre duas gerações e que marcaram profundamente a Literatura Moçambicana".  Nele, fez menção às gerações de 75 (marcada pelas vicissitudes da colonização) e à geração de 92 (marcada sobretudo pelo drama da guerra dos 16 anos) e procurou entender como e com quais indagações estes escritores produzem um discurso identitário. E para a geração actual de escritores moçambicanos, o que se pode falar dela?


É, pois, o pretexto de trazermos um guru da Literatura Moçambicana para tirarmos em conjunto ilações sobre esta inquietação, passando por saber antes sobre o percurso da geração que antecede à nova.


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Armando Artur é poeta e foi ministro da cultura. Há dois anos venceu o prémio de Literatura BCI, ao lado de Álvaro Taruma.


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Um dos poemas de Armando Artur: 


" OS  FAZEDORES  DE  PROMESSAS


Como destilar verdades

nestas palavras com odor de mofo?

Até eu poderia emprestar-lhes um ar de sândalo

não fosse a febre noturna dos búzios.

Há muito que os fazedores de promessas

emigraram sem que ninguém os lembrasse

dos gestos obscenos deixados para trás.

Quantos sonhos cabem numa palavra?

Quantos sonhos cabem numa cabaça?

Diziam-me que o mundo era uma pertença de todos.

E enganaram-me quando não acreditei.

Pois as palavras já não enchem a panela de barro.

Só o inverno sabe o quão é difícil

suportar as folhas caídas nas estepes.

Mas nenhuma ausência os entristece?

Nem mesmo a dor que os alucina. "

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Edição e redação: João Baptista

(Director de Marketing do Tindzila)


Projecto Tindzila

Unidos pela Lei-Tura

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