Por : Cri
O facto de Abdulrazak Gurnah ter feito a vida dele no Reino Unido, não lhe tira a africanidade, tal como Eusébio nunca deixou de ser moçambicano, por mais que este último tivesse pouco incentivo (da sua própria intelectualidade e da nação que o acolheu) para expressar com frequência, a ligação que sentia com Moçambique.
Por palavras suas, Gurnah diz ter chegado ao Reino Unido em circunstâncias quase que similares às que se submetem os africanos que chegam à Europa de barco, hoje em dia. Veio para o Reino Unido com o irmão, numa viagem que ele próprio chama de “pura aventura”. Gurnah tinha 18 anos e o irmão 20.
Quando os dois jovens decidiram rumar para a Europa, a familia toda (a raíz) ficou em Zanzibar.
Durante anos, Gurnah visitou Zanzibar.
Gurnah é perito em assuntos sobre refugiados, a condição precária do imigrante no ocidente, matérias que têm a ver com os períodos colonial e poós-colonial.
Escreveu cerca de 10 romances; na maior parte deles, descreve a costa leste africana; praticamente todos os personagens nasceram em Zanzibar. Um dos temas mais marcantes nos seus livros, é o multiculturalismo.
Grunah não é negro? Aquela carapinha dele vem donde?
Aqui no Reino Unido, em bom rigor, hoje em dia, descreve-se aquela mistura como: “black of mixed heritage”, ou seja, “negro, com herança genética mestiça”. A propósito, aqui no Reino Unido, o “Black History Month” é celebrado por todos os que não sejam brancos, incluindo asiáticos. Ao Nelson Saúte, isto deve dizer pouco, porque provavelmente cedo “assimilou-se” e estando no seu país, talvez tenha conseguido lugares de prestígio em mundos de “não pretos”, com os quais poucos de nós pudéssemos nos atrever sonhar. Mas o protagonismo do negro neste país foi conquistado, vai sendo conquistado à ferro e fogo. Lutas absurdas?
Ninguém se forma em “Estudos pos-coloniais”, sendo africano, para desdenhar ou distanciar-se do seu continente. Ainda que se foque na sua cultura “árabe-Zanzibar”, não deixa de tratá-la no contexto do solo africano e das influências que o continente e a cultura “árabe-Zanzibar” sofreram.
Mais, por sorte ou azar, a política colonial inglesa não impôs a alienação das culturas indígenas pelos nativos. Por tal, aqui, as pessoas não têm problemas em dizer que são "British-Jamaican", mesmo que nunca tenham lá posto os pés, ou de celebrar tais culturas negras e mestiças, de forma muito expressiva.
E para terminar, devo dizer que Grunah fala Swahili. E o Nelson Saúte, saberá falar alguma língua moçambicana, fluentemente e com orgulho?
NB: Freddie Mercury foi estudar na India (antes dos 10 anos) e só mais tarde e que se mudou para a Inglaterra.
Não sei da sua ligação com a Tanzânia.
Obrigada,
Cri
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