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A dor de uma decepção de Minória Pereira



Ao abrir porta da sala, ouvi passos leves e firmes em minha direcção, num repente, a imagem impressa da Clara, surgiu-se-me discreta nos olhos. Um vulto de vento repentino conduziu-nos ao interior da casa. A espontaneidade levou a contorcer a coluna à abaixo para receber a Clara. Aos poucos, vi envolvido o meu pescoço em seus braços macios. “Sentir os pequenos braços de Clara no pescoço, é tudo que preciso depois de um dia longo de trabalho”. Cogitei.



Clara sempre foi o meu consolo, a minha luz no escuro, meu amparo, único e verdadeiro motivo que me mantém viva. “Ela só tem sete anos e, a única que me entende. Talvez seja por ter saído do meu ventre e não me julga como muitos o fazem.” Imaginei.  Para Clara eu não precisava explicar-me. Fingir. Para Clara eu podia falar tudo e ainda chorar em seu ombro. Embora eu me expressasse sempre quando a acompanhava no seu sono, eu sabia que no fundo, mas bem no fundo ela me escutava. Para Clara não precisava mostrar e nem provar que sou forte. Minha filha sabia e sempre soube que se me tornei nessa pessoa fria, amargurada, e rancorosa foi pelas grandes patadas que a vida não fez questão de me poupar.



Observei o olhar brilhante da Clara e, veia o reflexo da Bia que um dia eu fui, “sonhadora, inocente, a que acreditava no amor”.
“Quando olho para Clara, eu lembro da filha que um dia eu planeei ter com Luís. É incrível... É tão incrível que chega a me causar dor”. Fantasiava sempre que podia.
Por mais que o tempo passasse, por mais que eu tentasse ignorar e seguir a minha vida de forma natural. Por mais que eu me esforçasse com todas as forças do meu ser, eu não conseguia tirar aquela maldita noite da minha cabeça. “Aquela noite vive em mim. Aquela noite me persegue. E eu lembro daquela noite como se tivesse sido ontem”. Confessava-me a mim própria.
Aquela maldita noite que despedaçou meu coração e tornou-me nesta mulher seca que hoje em dia eu me transformei.



- Bia?! - Meus olhos que estavam distraídos a olharem na Clara se debateram com surgir duma voz aguda a chamar por mim. Quem será? Indaguei e, precisava ver de quem se tratava.
- Boa noite Bruno. – Levantei-me para alcançar o pai da Clara que vinha da cozinha. Paraplégica fiquei. Boquiaberta não consegui entender muito bem o que ele fazia por lá, porém ignorei o facto de imediato.
- Eu vim buscar a Clara. Intimou. Directo com suas palavras cortantes mostrou claramente que não deseja ter nenhum outro tipo de relação comigo que não seja a da filha que tivemos. - Eu já fizera a mochila dela quando me atormentou a cor de rosa estampada com o desenho da princesa Sofia em sua mão direita. - Só estávamos a sua espera para irmos. Disse ele com ar de supremacia.  
- Eu queria despedir-me. – Foi a voz fininha Clara a preencher o vazio da alma que o momento criava. - O papá vai levar-me ao parque. Concluiu inocentemente.
- Que bom minha filha. – Esforcei-me a sorrir, enquanto direccionava o meu olhar à ela. Caiu-me o gesto duma mãe em desespero e a fiz carinho em suas bochechas como sinal de despedida consentida.
- Temos que ir, antes que fique mais tarde. Vociferou aquela voz masculina que se impunha entre a Clara e eu. Demonstrando que ainda tinha domínio sobre nós.
- Até na segunda mamã. – Retorquiu a pequena clara enquanto me dava um beijo na bochecha. - Te amo! Sentenciou a pequena clara.
- Eu te amo também filha. Fora as únicas palavras que me vieram a boca das tantas que tinham por dizer. Ela soltou-se da minha mão e deu alguns passos ao alcance do pai.
- Vamos? - Bruno estendeu sua mão como se tentasse acudir a filha dum mal maior, tal acto foi recíproco na filha que tentava alcançar a mão do pai. - Tchau Bia. - Ele encarou o meu olhar durante segundos em silêncio e, sinceramente, o modo que Bruno encarou o meu olhar incomodou-me. “Seu olhar é frio, de pena, não sei, como, mas parece que tem a dizer alguma coisa e as palavras, simplesmente travasse-se-lhe ao pescoço.” Pensava. “O modo com que Bruno me encarava parecia crer que eu jamais seria feliz. “E para falar a verdade acho bom que ele guarde esse argumento para si.” Ainda imaginava.



 - Cuide-se. – Parecia não ter dito nada. Num gesto de corresponder inconscientemente a declaração do Bruno, forcei a cabeça a balançar positivamente, em seguida ambos marcharam em direcção à saída de casa.
Assim que a porta bateu, um suspiro fundo saiu em mim e sem saber ao certo porque.
De forma estúpida, voltei a pensar em Luís, minutos depois. Em todo mal que ele me causara. A humilhação que me fizera passar e no tanto de lágrimas que ele me fizera chorar.
Luís não só brincara comigo... Ele zombara de mim, ele tinha destruído a minha vida e ainda, matara-me por dentro.

Abri a porta do meu quarto sem saber ao certo como chegara nela. Fui directo a casa de banho. Olhei-me pelo reflexo enorme do espelho estampado na parede.
“Não sou eu quem vejo mal.” Soltei um riso inesperado. “Aquele brilho que preenchia meus olhos simplesmente não existe mais. Não me reconheço”. Corroíam-me as tristes lembranças sempre que tentava me restabelecer.
“De mim só restou amargura. Uma enorme amargura. E tudo por culpa de Luís...”. Condenei em silêncio este maldito homem.

“Eu quero vingar-me do Luís. Eu vou me vingar do Luís. Eu juro que vou me vingar, nem que seja a última coisa que eu faça eu tenho que me vingar. Quem sabe depois disso eu voltarei a ser quem eu era.” São ideias que vinham constantemente a mente.
Para alongar a nostalgia duma mulher ferida, tirei as roupas em meu corpo, em seguida, me deixei demorada por baixo do chuveiro. A água morna a cair sobre corpo. Um minuto de paz me vem ao sentir o roçar das gotas mornas. E, em momento algum parei de pensar em Luís. Na minha vingança.
“Eu só quero que Luís reflicta o quanto me causou dor. Eu quero que ele se arrependa por todo mal que me causou. Eu quero que ele implore pelo meu perdão, que sofra, que chore do mesmo jeito que eu chorei. Nem que seja por um instante, por um minuto ou por um segundo.” Continuava a amaldiçoar o Luís. Bem que parecia esta a assinar um pacto com o Diabo.
Sinto que o corpo me começa a esfriar, e a ficar ensopado. Fechei o chuveiro e me embrulhei de imediato numa toalha. Dei alguns passos para o quarto e na minha cabeceira peguei uma pasta de documentos, abri e li pela milésima vez as informações sobre o Luís conseguidas pelo detective particular que contratei a cerca de seis meses atrás.
Peguei no meu celular jogado em cima da cama e, pus-me a digitar o número de Rute, chamei o número, não demorou a atender:



- Bia?
- Rute! pode vir à casa? E Agora…
- Bia? Alô, consegue ouvir-me? Olha não consigo te escutar. – a fala da Rute denunciou estar em uma rua movimentada, conseguia ouvir um leve barulho de vento. Podia imaginar a Rute a buscar por um canto cómodo e um pouquinho tranquilo para poder escutar-me.
- Oi... Rute…! consegue ouvir-me agora? Indaguei despreocupada com o seu estado de ser e espiritual.
- Ufa.. Agora sim. Melhorou. Retorquiu.
- Chegou a hora Rute. Afirmei e nem a dei espaço para se pronunciar. - Pode vir para minha casa agora? Acrescentei.
- Está bem Bia. Chego aí em trinta minutos no máximo. Afirmou. Notei o tom de Rute meio cansado e impaciente, mas ignorei o facto desligando o celular assim que ela respondeu.

De seguida, larguei a pasta de documentos na mesma cabeceira. Levantei-me e fui até ao guarda-roupa, entre tantas roupas escolhi um vestido totalmente preto sem mangas, e cumprido. Vesti-o de imediato. Soltei o cabelo que estava preso com um gancho e passo um pouco de batom lilás nos lábios. Calcei sandálias rasas. E ainda fui à cozinha onde vi a mesa posta por Yolanda, uma senhora de aproximadamente quarenta e poucos anos que trabalha para mim. A  minha secretaria.
Como o habitual, vi a comida no microondas antes que eu abrisse para descobrir o que era, cliquei no botão de ligar e esperei o suficiente para que a comida ficasse quente, enquanto escutava o som desconsolante dos Calemas em volume baixo.
Desliguei o microondas e tirei a tigela transparente que mostrava claramente o esparguete recheado de frango. Servi a comida no prato e me sentei a comer enquanto pensava e arquitectava cada detalhe da minha vingança, cada passo que daria. Imaginava todas as lágrimas que eu queria que ele derramasse. “Luís tem que pagar. Ele tem que sofrer.” Sentenciava.
As vezes eu imaginei como seria minha vida se Luís e eu estivéssemos juntos hoje. Se ele não tivesse me largado. Se ele não tivesse me despedaçado. Teríamos a vida que ambos planeámos? Será? São as questões que não se queria calar.
“Estaríamos casados como eu fantasiava? Teríamos tido os filhos que queríamos ter? Ah, me paga, este cabrão me vai pagar.” A raiva ia subindo-me pelas veias adentro até aos nervos. Empurrei o prato sobre a mesa revoltada enquanto isso, uma enorme vontade de chorar me sobe os olhos. Desatei um pingo de lágrima. Insignificante. A valer mais que este Luís.
“Tenho raiva de mim mesma por pensar tanto em Luís. Eu sei que talvez ele nem sequer deve se lembrar de mim, afinal agora ele está casado, tem filhos (Segundo as informações colhidas pelo detective ) .Como é possível alguém esquecer uma vida inteira por mais tempo que passe? Eu sei que já mais conseguirei ser feliz antes que eu efectue a minha vingança contra Luís”. Ainda me turbinavam as ideias malévolas.
Num repente, escutei batidas da porta principal da casa. Fizeram-me por instantes tirar os pensamentos do Luís.



Levantei-me, imediatamente, dei passos apressados em direcção a sala. Directo a porta. Aos escassos centímetros da Rute, alarguei o meu braço, suficientemente para que a minha mão alcance a chave na fechadura. Assim que abro. A imagem dela ganha destaque em tudo.
- Você teve sorte, eu estava aqui perto. - Rute falou a entrar na casa como se fosse sua. Em verdade, isso não me incomoda nem um pouco, Rute e eu temos intimidade suficiente para tal. - Onde está a Clara? - Ela deu uma volta com os olhos pela sala toda.
- Ela está com o pai. - Com a resposta a fiz parar de procurar pela menina. - Hoje é sexta-feira. - Rute franziu as sobrancelhas e, não precisou falar mais nada pois estava a par disso,  todo final de semana Clara passa com o pai. - Chegou a hora Rute. – Fechei a porta e encarei o olhar da Rute que parece inconformado. - Chegou a hora de me vingar do Luís e você tem que me ajudar.
- Sabes bem o que penso sobre isso. Eu entendo a sua vontade de se vingar, mas olha não me peça para ajudar-te nessa loucura. - Rute cruzou os braços deixando claro que não pretende ajudar.
- Não é uma loucura como você fala. Rute eu preciso fazer isso. Volto cobra-la como se não me importasse com os seus sentimentos.
- Bia, dás-te conta do que estás por fazer? Olha a sua vida como está por conta desse rancor. Acha mesmo que essa vingança vai curar todas suas feridas? Indagou ela mais calma e precisa.
- Acha que eu gosto de me sentir assim? - Elevei um pouco o tom da voz e meio revoltada acrescento. - Esqueceu tudo que o Luís fez comigo?
- Eu não esqueci e também não estou a dizer que és obrigada a esquecer. Mas a vida é uma e, mais do que isso Bia, acorda e supera isso. Será que você não percebe que está a perder a razão? - Balanço a cabeça negativamente direccionando o olhar para baixo, nesse momento uma lágrima escapa dos meus olhos. - Bia, você privou a sua filha de te conhecer de verdade, conhecer aquela Bia que você era e que eu tenho certeza que ainda existe aí dentro. Só que está escondida em algum lugar. Voltou a me falar de forma amena e convincente.
- Por culpa do Luís. Disse ela.
- Por favor Beatriz esquece o Luís por um instante e pensa um pouco em ti, na sua filha, nas pessoas que te amam. Amiga imagina como a sua filha seria feliz se conhecesse o seu verdadeiro sorriso?
- Eu sempre fui uma boa mãe.
- Eu sei. Mas Bia eu quero que entendas que existem coisas muito mais importante que o fimde um  relacionamento.
 


Entrançado era que por mais que eu soubesse que Rute esteja certa não consigo evitar esse nó dolorido no meu peito. Não sei para onde levar esse rancor que preenche meu ser. Essa dor acumulada em mim.
- Então você não vai ajudar-me, Rute? Perguntei.
- Eu nunca concordei em te ajudar Bia. - Virei de costas para a Rute na esperança que ela mude de ideia, meus olhos ficaram ainda mais marejados e tudo que eu quero nesse momento era dar um grito para ver se essa dor atenua.
Sinto-me abandonada. Sozinha. Perdida, porém,  a cede de vingança permanecia viva em mim.

- Vai embora daqui Rute. - Falei sem ser capaz de encarar seu olhar. - Você nunca vai poder entender-me. - Naquele momento, meu estômago parecia revirar do calmo ao avesso e quis arrepender-me de tudo que eu falara. Queria poder olhar para Rute e pedir perdão mas nem isso eu era capaz.
Escutei o silêncio no ar, e a tensão entre nós se tornou ainda maior, instantes depois, minha amiga decide quebra-lo.
- Sabe o que eu acho? Que no fundo você ainda ama o Luís, por isso faz tanta questão em seguir com essa sua vingança.

Depois das suas palavras, escutei seus passos a se distanciarem de mim, e minha vontade tinha sido de gritar para que ela não fosse. Poucos segundos depois a porta bate, assim que, Rute sai. Fiquei dominada por uma vontade louca de morrer, tudo que me vinha a mente doía-me a parecer o enfiar das facas na garganta. Quis acabar de uma vez por todas com a minha miserável vida.
Quando me dei conta, meu rosto estava coberto de lágrimas. Não sei... Talvez Rute esteja certa em dizer que eu continuo a amar Luís, mas como? Como vou amar alguém que o único que fez é me causar dor?
Ao nada, alcançei um vaso na mesinha de centro e atiro no chão com raiva, fui apressada e movida por uma força que desconheço, e quebro tudo que consigo. Em momento algum consigo parar de chorar.
Dei uma pausa por um segundo e olhei a minha volta, estava tudo revirado, assim como a minha vida. Posso sentir meu coração bater enraivado. Marcho lentamente à cozinha e a me sentindo uma verdadeira miserável.
Vi uma faca na pia de loiça, o que quero é acabar com a minha vida. Desviei o olhar da faca, e visualizei o fogão, caminho até a janela da cozinha, e certifico que está trancada, fechei a porta da cozinha e fui a tentar atear fogão na casa.
No entanto, parei um pouco para pensar, antes que eu me desse espaço para mudar de ideia. Deixei todas as panelas de cima do fogão, e ligo todas as bocas. E permaneci alí, na cozinha, esperando a morte chegar até mim.



Aos poucos o cheiro do gás foi se tornando mais forte, e eu a inalar. Minha cabeça tinha começado a virar, meus olhos enfraqueciam, minha respiração começava a falhar.
O suor no meu corpo era inevitável. Começava a pensar na minha filha. A vontade que eu tenho de morrer é mais forte que o imenso amor que tenho por ela nesse momento.
Pensei na dor que vou causa-la, no quão egoísta que estaria sendo. Mas é tarde de mais eu sinto que é uma questão de segundos para que minha alma abandone meu corpo. Tossi algumas vezes perdendo o pouco de ar que me restava. Decidi dar um passo para onde nem eu mesma sei, uma tontura bateu-me e sem conseguir evitar meu corpo caiu no chão.



 




Minória Pereira
Revisão : Jeconias Mocumbe

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