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A CORTINA DA MENTIRA CAIU!


Tem uma casa de alvenaria trajada a rigor, no bairro, mas o dia que foi descoberta a sua nudez, os olhos, não ficaram só enojados, foram também invadidos por um pesado e belo par de chifres, como quem desperta do sonho para a distopia de uma virgem rebocada, rodada e tratada com toda a pujança viril dos machos do bairro. Foi o descuido das persianas na luta de libertação nacional, que capturou o homem e a terra...


Dentro desta casa, há destroços, ruínas, multidão atolada na lama da cegueira; encarcerada nas celas tateadas na muralha dos campos de concentração, campos de reagrupamento e aldeias comunais, onde respetivamente, as chacinas ferviam o sangue, a tortura alinhava a demência dos loucos e o engano, patrulhava os aldeões dia e noite. É impávido e brutal o golpe nas costas, deferido descaradamente, pelos ociosos empregados, que salvam a pátria para as suas insaciáveis barrigas, desde os anos 70.


Tem uma casa de alvenaria nos algures da pérola. As peças encenadas nas suas estranhas são eloquentes, me recordam o desatar de um nó da Inocência, com a descoberta do tesouro que emana as gravidezes das mulheres – obesos miomas da guerrilha, entronizados no útero, enquanto a cortina da casa, flutua entre o silêncio e o lazer. Agora entendo todos os meandros do plano: enquanto as íris adormecem na sombra da história, certas víboras recarregam o veneno nos seus gigantescos motores.


Dentro desta casa, as imundícies percorrem os compartimentos; não há escoamento para expelir os excrementos que vagam nos corredores da casa! É uma grande lástima, pois, as arcaicas táticas de guerra contra o sossego, ainda trilham os caminhos subvertidos desde os anos 70; anos 70, atropelados pelos carrascos, mascarados de libertadores do homem e da terra. Que pouca-vergonha das cortinas que vendam aos olhos, a memória dos "bandos" que assaltaram os palácios com granadas, metralhadoras e morteiros da democracia!


Tem uma casa de alvenaria apetrechada de enganos, no bairro. A sua tinta de sangue ainda não secou nas paredes, desde os anos 70.

por: Xituculuana




Xituculuana, pseudónimo de Elídio Ermelinda Vilanculo. Poeta e Escritor por vocação, fundador da Netos Editorial. Finalista do prémio literário FLC 7 ª. edição com a obra Memorial de um vento, participou em várias antologias nacionais e internacionais, em destaque a Coletânea Ocaso – Vol.1, organizada pela Massinhane Edições e a Comunidade Ressonâncias Literárias, na qual é membro interno, a ocupar o cargo de Coordenador Geral. Dedica-se profissionalmente a edição e Design Editorial. É completamente apegado à lite-ratura, com expectativas de contribuir positivamente para o desenvolvimento da arte, cultura e educação.


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