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Por que Luís Cezerilo? - Almeida Cumbane

 


 

Aproximam-se as eleições para os órgãos sociais da AEMO.  Sempre me mantive de longe, sem engajamento, à espera do que os resultados dirão. Desta vez decidi fazer diferente, ler os manifestos e ser parte dos resultados.

Conheço Cezerilo como escritor, académico e lenda do Basquetebol. Na primeira qualidade, o que interessa aqui, sempre admirei a sua predisposição para se deslocar de Maputo à cidade de Xai-Xai em eventos literários desde lançamentos de livros até grandes eventos como o Festival Internacional de Poesia, organizados pela Associação Xitende. Emprestou sempre o seu saber nos debates, a sua experiência na condução dos eventos e a sua voz para dizer poesia.

Não será pelas razões acima elencadas que votarei em Cezerilo. Se assim o fizesse, estaria apenas na dimensão da simpatia. Foi-me apresentado o pré-manifesto, as linhas mestras, e é isso que me chamou atenção. Vejo neste manifesto o desejo de desfazer a ideia de escritores que estejam sempre “nas bordas”(levando de empréstimo o título de Agnaldo Bata) da grande casa que é a AEMO. Como devem ver desisti de escrever “nas bordas do arco-íris” e substituí por grande casa. Já devem imaginar porquê.

Cezerilo entende, pela leitura que se faz ao pré-manifesto, que há escritores que precisam crescer, que não estão no patamar dos que já se consolidaram, mas que é preciso respeitar os processos e considerar o que há em potência. Lê-se, por exemplo o seguinte: “estabelecer um programa de revisão de pares para que membros possam oferecer e receber feedback…” Esta ideia não é apenas importante para o grupo de escritores a que fiz referência, mas a todos, considerando que traduz de forma clara o princípio da filosofia ubuntu “eu sou porque tu és”.

Ainda nesta senda do apoio ao escritor (sobretudo os mais jovens), ele destaca o apoio à criatividade através de concursos, numa altura em que grandes concursos e prémios sob a égide da AEMO (Prémio TDM, Prémio BCI, Prémio 10 de Novembro, entre outros) desapareceram do mapa.

Poderia falar do grande projecto de internacionalização da literatura e outras linhas, mas quis pegar apenas algumas, para com elas dizer em alto e bom tom: EU VOTO CEZERILO.

 

Almeida Cumbane

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