1.
Olhei a casa.
janelas choravam uma cegueira qualquer.
no chão,
contorcia-se de dor uma porta do tamanho de dez.
olhei de novo.
olhei os olhos das paredes caídas.
olhei o tecto quebrado nos braços da sala.
vidros sangravam a guerra das bocas
que se rasgavam aos delírios.
gritei na nuca das luzes apagadas.
olhei as sobras do meu olhar.
vi,
que antes da queda da magra porta,
toda aquela casa da porta já tinha caído!
então,
as minhas mãos sorriram a preguiça dos meus pés!
2.
Então,
se te estendesse
poemas,
em folhas verdes
nas mãos abertas
do meu olá,
será que não te seria Álvaro
em algum campo?!
mas,
só sei ser nenhum poeta!
dobro meus olhos.
meto-os
nos bolsões
do medo.
passo pelas ruas
do teu rosto,
como se passasse
entre gordas pernas
do vento.
3.
Tento escrever um verso.
um verso que me diga outro.
chama-me,
pela minúscula boca dos pés,
esse poema,
que mal (re)conheço o rosto.
e, para dizer uma simples frase,
é preciso voar toda geografia,
que te faz céu da ausência,
com as mãos da boca,
cheias do teu nome.
4.
Abro-me
na porta direita
da dúvida.
penduro a certeza
em todas janelas
da casa.
hoje,
acordei todo esquerdo.
será mar esse rio
brotando dos pés
inchados
desta solidão
rindo?
5.
Meus rios
guardam vírgulas
no umbigo do mundo.
Britos Baptista
Biografia
Britos Adriano Baptista nasceu na cidade de Mocuba, na província da Zambézia, em Moçambique. É licenciado em Tradução de Francês/Português, pela Universidade Eduardo Mondlane. É tradutor e interprete ajuramentado de Francês/Português e vice-versa. É escritor e poeta. É membro da AMOJOF (Associação Moçambicana de Jovens Francófonos) e membro organizador do Clube do Livro de Milange. Foi um dos vencedores do concurso de poesia ‘’ Desenha-me a tua liberdade’’, em 2016, e venceu o segundo lugar do concurso de escrita ‘’ Printemps des poètes’’, na categoria de poesia, em 2019.
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