Por: Zaiby Manasse
Nunca andei numa montanha-russa, mas imagino que a sensação seja semelhante à experiência de ler este livro. Começa devagar, a subida é lenta e ritmada, até que atinge o ponto mais alto. E, de repente, a aventura deslancha. A velocidade aumenta de tal forma que, mesmo que se deseje parar, não é possível. Só há uma maneira de terminar: chegar ao fim da linha.
Este livro inicia-se de forma tímida, quase como quem não quer nada. Porém, à medida que avança, evolui de forma tão magistral que, a partir de determinado momento, torna-se impossível largá-lo. Um pouco depois da metade, a história atinge um ritmo tão frenético que me vi obrigado a tentar pausar a leitura. Guardava o livro por alguns segundos para recuperar o fôlego, mas logo retomava, incapaz de resistir ao feitiço das suas páginas.
Os capítulos curtos, a linguagem simples e acessível, e o tema cativante são os ingredientes que fazem desta obra uma verdadeira maravilha.
É a segunda vez que leio Virgília Ferrão, e não podia estar mais satisfeito. Este livro, sem dúvida, supera o primeiro que li dela, A Sina de Aruanda. Neste novo trabalho, a autora consegue misturar a realidade com o mágico de forma tão harmoniosa que é impossível distinguir um do outro. Tentar separá-los seria como destruir a própria essência da história.
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Imagem por Zaiby Manasse |
Admiro como Virgília Ferrão aborda a africanidade sem cair nos clichés de sempre. Também aprecio a forma natural como exalta a comunidade LGBTQ+ sem impor ideias ou forçar narrativas. A inclusão de personagens com essas vivências é tão orgânica que simplesmente enriquece a trama. Além disso, os dramas familiares, as amizades e a negação daquilo que é intrinsecamente nosso são tratados de forma profunda e cativante.
A forma como a autora nos mantém a par de acontecimentos não resolvidos nos capítulos anteriores, deixando-nos com uma ânsia de devorar as páginas para descobrir os desfechos, é simplesmente magistral. Ela planta a semente sem revelar de imediato como esta floresce, deixa-nos observar o fruto e só então explica o processo de maturação.
É um orgulho enorme ler uma autora moçambicana e perceber o nível de qualidade que temos no nosso solo pátrio. Quem aprecia os livros de Colleen Hoover ficará encantado com esta obra, que, na minha opinião, está num patamar superior em termos de qualidade. Ao lê-lo, lembrei-me de Colleen Hoover, Kaya M. e Paula Hawkins. O estilo de Virgília Ferrão tem ecos das grandes autoras, mas com um toque que lhe é único.
As histórias de amor em Os Nossos Feitiços são simplesmente arrebatadoras e, mais do que isso, possíveis no mundo real. Encontrei pedaços de mim e da minha própria história nas páginas deste livro.
A forma como esta obra nos prende é realmente mágica, como um feitiço. Cada página traz uma nova emoção — espanto, medo, magia, mágoa, fome, alegria, choro. É impossível não sentir-se parte da narrativa.
Recomendo vivamente este livro, que é o primeiro de uma trilogia. Virgília Ferrão, sem dúvida, estabeleceu um novo padrão na literatura contemporânea moçambicana. Uma Paulina Chiziane moderna.
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