Avançar para o conteúdo principal

05 Poemas do livro O prazer ao chorar, de Whaskety Fernando

 



 

Com o objectivo de promover a leitura e incentivar a busca por obras de autores moçambicanos, criamos este espaço especial, no blog, denominado “EU LEIO A MALTA” e que servirá, nos próximos dias, como ponto de encontro para compartilhar reflexões sobre algumas dessas leituras ou excertos de alguns livros. Para dar início a esta jornada, destacamos 05 poemas do livro O prazer ao chorar, de Whaskety Fernando, publicado pela Fundza no âmbito da 3ª Chamada Literária Fundza 2023/2024.

 

O livro O prazer ao chorar, de Whaskety Fernando, reúne poemas que exploram os dilemas da existência humana, os ciclos da vida, e as conexões entre o indivíduo e a natureza. Em linguagem lírica e simbólica, o autor reflecte sobre temas como a dor, a esperança, a identidade e o tempo.

 

 

 

1.

 

Quantas madrugadas eu cantei

antes do galo cantar

o sol e o dia

a nascerem novos

no mar antigo de sangue.

E noites, quantas

 eu chorei no deserto do mundo.

Agora chega.

Basta o silêncio, a canção da esperança

 nos olhos que viram morrer

 os sóis e os dias aguardados.

Agora chega.

Basta o gesto mudo dos rios

 no declive do meu rosto.

A vida é também

 para além do choro e do canto.

 

 

 

 

2.

 

Na terra as árvores cantam o choro do mar

na voz das águas do rio

e pelas suas folhas

sei os caminhos do ar.

 

 

 

 

 

3.

As lágrimas secam

a esperança, tão nova a raiz dos dias

desconhecidos que deixava

entrever o seu rosto.

É o tempo a pecar

 contra mim, realidade do sonho

 cantado até à véspera...

Espero que um dia

o mesmo pássaro volte a cantar a vida,

 o sonho fatal.

 

 

 

 

4.

 

Fecho os olhos para ver outro eu.

Nesta versão descubro

o que sou.

Esta incerteza

do meu corpo no espaço.

está existência vocal

Habitando o corpo vão dos dias.

 

 

 

5.

Estão mortas as palavras.

Mas dentro de mim ouço a voz de ninguém,

a pura voz da vida a cantar o dia, tão negro

da cor das minhas lágrimas.

 

 

 

Biografia

Whastkety Fernando nasceu em Munhava, onde residete até a data hoje. Como autor, escreveu a obra “O deserto” a qual recebeu menção honrosa no Premio Literário Banco de Moçambique, na categoria de poesia; “Apontamento para um romance” (poesia) que mereceu o Premio Literário A Língua que nos Une, a novela “Noites de desassossego” finalista do Premio Literário Fernando Leite Couto,  e em 2023 publicou o romance “Os últimos animais”.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Basta, Agualusa! - Ungulani Ba Ka Khosa

À  primeira perdoa-se, à  segunda tolera-se com alguma reticência , mas à  terceira, diz-se basta! E é  isso que digo ao Agualusa, escritor angolano que conheço  há mais de trinta anos. Sei, e já  tive oportunidade de o cumprimentar por lá, onde vive há anos num recanto bem idílico da Ilha de Moçambique; sei que tem escrito tranquilamente nessa nossa universalmente conhecida ilha; sei, e por lá passei (e fiquei desolado), que a trezentos metros da casa de pedra que hospeda Agualusa estendem-se os pobres e suburbanos bairros de macuti (cobertura das casas à base das folhas de palmeiras), com  crianças desnutridas, evidenciando carências  de gerações de desvalidos que nada beneficiaram com a independência de há 49 anos. Sei que essas pessoas carentes de tudo conhecem, nomeando, as poucas e influentes famílias moçambicanas que detém o lucrativo negócio das casas de pedra, mas deixam, na placitude dos dias, que os poderosos se banhem nas águas  d...

Gibson João José vence a 17ª edição do Prémio Literário José Luís Peixoto

  Gibson João José, natural da província de Inhambane, Moçambique, foi um dos vencedores do Prémio Literário José Luís Peixoto em 2024, na categoria destinada a não naturais ou não residentes no concelho de Ponte de Sor. O escritor conquistou o prémio ex aequo com a obra Em Vogais, ao lado de Paulo Carvalho Ferreira (Barcelos), distinguido pela obra Almanaque dos dias ímpares. Para Gibson, “ter vencido o Prémio Literário José Luís Peixoto | 2024 constitui uma enorme satisfação e, talvez, um bom sinal para quem conquista o seu segundo prémio e está a dar os primeiros passos nesta jornada de incertezas”. Acrescenta, ainda, que esta vitória é "também um marco na literatura moçambicana, que, nestes últimos tempos, tem-se mostrado vibrante e promissora, com autores novos que, a cada dia, elevam o seu país além-fronteiras”.O Prémio Literário José Luís Peixoto é atribuído anualmente pela Câmara Municipal de de Sor em 2006, tendo a sua primeira edição ocorrido em 2007. Segundo a organiza...

Pedro Pereira Lopes vence o Prémio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura 2024

O escritor moçambicano Pedro Pereira Lopes foi distinguido com o Prémio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura 2024 pela sua obra “Tratado das Coisas Sensíveis” . Este prestigiado prémio literário, instituído pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), tem como objetivo promover a literatura de língua portuguesa, reconhecendo obras de autores que se destacam pela excelência e originalidade. Além da consagração de Pedro Pereira Lopes, a obra “A Vocação Nómada das Cidades” , de autoria de André Craveiro, recebeu uma Menção Honrosa . Sobre o Prémio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura O Prémio, em homenagem a Vasco Graça Moura, figura incontornável da literatura portuguesa, destina-se a premiar obras inéditas no âmbito da poesia, ensaio ou ficção. Além de prestigiar autores de língua portuguesa, o concurso visa estimular a criação literária e assegurar a publicação e promoção das obras premiadas. As candidaturas são abertas a autores de qualquer nacionalidade, desde que os trabalhos sejam a...