Vôo 97
Procurei ouvir de ti naquela Love Song
O tapete voava pelas alturas e estávamos à sós
De madrugada te cobria com o meu lençol
À espera que amanhecesse e fosses o meu sol
Mas amanheceu e acordei do sonho longínquo
Tu és um clássico de cinema, nossa novela terminou no início
Era tão mágico, tão terno, para descrever não havia termo
Promessas de um eterno que tiveram término
Uma nave que despencou sobre ganeira
Um cintilar que limiou sem maneiras
A ouvir um fim a falar suas profecias
Como um poema dito sem poesia
Destroços de um vôo mal concebido sobre solos
Sóis idos em reflexão à volta do abandono
Um coração ficou vazio, uma alma perdeu seu brilho
Sussurros de dependência, lá se foi o brio
Fragmentos de uma devoção plena ao amor
Que ao ir apanhar ar pela janela se foi
Sem cartas de despedida, levou seu talismã
Uma estima que paga guerra, um íntimo talibã
Precisava Dormir
Precisava dormir
Mas não podia semti
Um pouco de mágoas ao jantar
Um Bourbon para acompanhar
Mas onde estavas?
Diz-me por onde andaste...
Os meus sentidos procuraram
Alguma forma de substituir-te
Não encontraram, estiveste nos braços de outro homem?
Eu sei, mas não dá para viver sem ti
Quando sentiste os meus toques vindos de mãos de outro homem
Os meus beijos em lábios de outro homem
As promessas depositaste na conta de outro homem
E o prazer? Foi na cama de outro homem
Eu precisava dormir, mas nenhum sonífero
Suplantava a falta que fazias
Enquanto misturas de Emmy Wine house e este Bourbon me subiam a cabeça
Eu precisava dormir
Mas tu não estavas aqui...
China
Eu não sabia que China era tão longe
Depois de várias luas sem ouvir a tua voz
Recebi uma mensagem em que dizias
Estou a voltar,
Desde lá estou no aeroporto à tua espera
Esses voos que vem e vão
Mexem com a minha imaginação
E eu transpiro de ansiedade
E na verdade, não sei se estou preparado
Eu nunca confiei em aviões
E hoje tenho o coração em um deles
Tenho o coração no coração do piloto
Tenho a vida nesse vôo
Cruzo os dedos, mordo a língua
Amaroto papéis, rôo as unhas
Meus batimentos cardíacos a mil
Espero que haja ambulâncias por aqui
Quantas pessoas entram e saem?
Quantos sonhos se perdem aqui?
Quantos amores no aeroporto se esvaem?
Quantos velhos amigos se reencontram aqui?
Pergunto o que te vou perguntar
Do outro lado do oceano, como é o ar
Será que ganhaste o sotaque
Olhos mais finos ou ataques de chique
Ainda rola um pão com badjia?
Ou Costa do Sol, comer xima com magumba?
sentiste falta de mim? Aliás, daqui?
Ainda são as mesmas coisas que te fazem sorrir?
Não sei se te vou reconhecer
Mas a julgar pela última foto posso crer
Engordaste um pouco, cabelo ainda é crespo
E o sorriso ainda um encanto
Trazes velhas lembranças na bagagem?
Tipo eu e tu na paragem, ainda sabes andar de chapa?
Tua viagem me trouxe várias viagens
E quando volto a mim, diante de mim estás tu.
Odjoh Molotov II (Odjohomodave E. Emílio), tentativa de
poeta, compositor, palestrante, radialista, activista, estudante de
Biblioteconomia e Documentação e cofundador do projecto Na Barra Do Verso.
Nascido em Maputo, a 31 de uma Primavera de um ano
qualquer, escreve influenciado pelo Rap que ouve por volta de 2010. Viver sem
poesia é como confiar no diabo para não ir ao inferno.
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