Gostaria de começar com a enigmática frase: "Não se explica um poema." O poema, na sua essência, é algo surreal, nostálgico, único e sensacional, que embala o leitor e provoca lágrimas. Neste livro de poesia, intitulado "NO DORSO DA SOMBRA" de HERA DE JESUS, sou levado a fugir dessa tradição habitual, indo contra o que diz o adágio popular. Aqui, não há apenas a expressão de dor, angústia, agonia e paz. Há silêncio, reflexões e perguntas que o tempo se cansou de esconder, mas que hoje clamam por respostas.
"NO DORSO DA SOMBRA" é uma coletânea de poemas da poetisa HERA DE JESUS. Nesta obra, a autora levanta a voz não apenas para chorar os males que afetam o gênero feminino, mas também para dar voz aos que estão ocultos em cada olhar, silêncio e solidão. A dor marca o ponto de partida, onde memórias adormecidas insistem em clamar, e o silêncio se torna verdade, secando as lágrimas. A obra continua com a denúncia, onde os "açoites das palavras" não expressam o amor jurado, entre as palavras soltas na primeira impressão. Ouve-se um desabafo em que a alma denuncia o abandono, após a embriaguez de uma paixão e amor ausente. Esse desabafo segue o curso das lamúrias de um coração estilhaçado que encontrou amparo nas águas do mar, que se encarregaram de lavar as nódoas deixadas. As questões sobre o amor prometido e não cumprido não passam despercebidas, ouve-se a pergunta: "Que fizeste de mim?" "Se as paredes contassem, o martírio de carregar o meu sepulcro," revela a dor que pesa pelos fardos que escondem memórias sombrias.
Não é apenas da dor que a Hera costura sua poesia; há também, aqui, superação. Após um longo tempo em silêncio, a partida se revela a melhor forma de dar um fim à dor, reunindo memórias, lágrimas, tristezas e alegrias que restaram. A decisão é um renascimento, a morte da menina e o nascimento de uma mulher madura. Há também a exaltação do amor, retratando a mulher como uma flor que pinta as páginas com palavras mágicas; ela é "o começo e o fim". Na celebração do amor, surge o seguinte verso: "Onde estiveres, que a nossa memória cripte em ti, ardente". HERA nos leva a enxergar a mulher que amamenta seu bebê enquanto carrega a enxada, cozinha, passa as roupas e cose as meias, buscando água, pilando o milho e pensando nos livros para ler. É uma forma bela de enaltecer a força e a coragem das mulheres, que são polivalentes, capazes de se adaptar e se reinventar a cada amanhecer, quando o sol se põe na terra e ilumina o mundo. Mas também, um lembrete sobre os desafios diários que elas enfrentam, chamando atenção para a valorização e proteção desta mulher que é força, amor e consolo. A exaltação da beleza da mulher Macua não passa despercebida, com o mussiro, o batom vermelho e a capulana, que são a identidade dessa mulher, sendo exaltados.
Algo que não passa despercebido na escrita da autora é a maneira como ela escolhe terminar seus poemas, com pontos de interrogação e exclamações que provocam introspecção e autoanálise da sociedade. O uso de uma lírica pouco fechada torna a poesia mais acessível aos leitores. Ler Hera de Jesus não é apenas sentir a delicadeza das palavras que fluem no papel e transbordam na alma, mas é vivenciar a beleza da poesia que corre em suas veias. Na leitura de "NO DORSO DA SOMBRA", viajamos além do que podemos imaginar em uma única sentada; é um livro que pode ser lido de uma só vez.
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Sem mais spoilers, convido-vos a lerem e se deleitarem com o manancial poético que a poetisa HERA DE JESUS nos oferece nesta relíquia, "NO DORSO DA SOMBRA".
Michael Nivorocha
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