Excelência, rogo-lhe que leia atentamente esta carta. Há reclusos incriminados no seu gabinete. Veja bem, há reclusos dentro das suas gavetas e armários. Se não for por engano propositado, que sejam enviados para a jaula juntamente com aqueles processos dos condenados que perderam o crachá da caução e os tantos perdões do santo das misericórdias. Mas, por favor, não os atire na cova dos leões, como de costume. Rogo-lhe, não os atire ao circo de Nero para serem dilacerados pelas feras armadas. Quiçá, são provedores, pais e filhos, Excelência!
Excelência, há reclusos dentro das suas gavetas e armários. Merecem ser libertados desse purgatório para serem esmagados pelo martelo da justiça dos tribunais ou, pelo menos, verem os seus casos analisados por uma equipa de magistrados. São reclusos-chave, conhecem todos os meandros daqueles malandros que nos trepam às costas como gala-galas e salamandras nas paredes. Aqueles que não permaneceram olho a olho, dente por dente, diante de Efigénio Baptista, em 2022, sob a coberta das dívidas ocultas.
Excelência, chegaram há pouco três reclusos. Veja bem, no relatório da UIR consta que são estupradores, sequestradores e golpistas. Mas, os três... os três jovens são comunicadores messiânicos. Alex Barga é o jovem editor daquela sua dissertação “O Abate Consumado do Líder Terrorista Al-Shabaab”, vislumbrada a 25 de Setembro de 2024.
Excelência, devo lembrar-lhe: estes três jovens não são nenhum Cristo, nem dois ladrões, um à direita e outro à esquerda. São filhos do povo! Excelência, chegou agora mesmo um contingente ferozmente armado, a escoltar um cão sarmento, achado na Praça dos Heróis, Avenida dos Acordos de Lusaka – aliás, na Praça dos Assassinos, Avenida Morte a 25 Balas ou Prisão Oculta nas Gavetas.
O cão sarmento foi encontrado hoje, à meia-noite, a lamber as suas covas vermelhas, ornadas de flores de carne viva, abertas pelo todo-fino cadáver. Precisa-se do seu despacho, excelência, para se dar entrada à atribuição do número e posição no navio negreiro: a vala comum.
Excelência, é necessário analisar atentamente este cadáver, pois as balas, quando vomitadas, têm a mania de não escolher nem bater à porta de casa.
Excelência, não se encontrou, em todos os arquivos, os processos dos reclusos Mondlanianos, Cardosianos, Machelianos, Chemussianos, Azagaianos, Elvinianos dos dias actuais... Reclusos dos anos 60 até aos dias de hoje, no Índico sem pérolas. Reclusos vindos dos bairros pobres de toda a pátria armada!
Recebi há pouco a notícia. Os seus parentes devem estar preocupados com o repentino desaparecimento destes reclusos-cidadãos, pois até lá fora se vê aquele compadre estuprador, até aquela senhora que abandonou o sobrinho sobre o campo de girassóis mortos, debaixo de lençóis quentes, o rapaz a pintar a terra de vermelho com uma planície sangrenta estendida sobre o seu órgão genital. Há reclusos incriminados apodrecendo no seu gabinete.
Excelência, que estes casos sejam analisados
abertamente, antes que os empurrem para o forno do inferno. Este punhado de
camponeses deve ser libertado das gavetas, para uma possível felicidade dos
seus vizinhos, sobrinhos e primos.
Excelência, faça justiça!
Revisão: Sérgio Raimundo & Águia Segundo
Autor: Xituculuana
Xituculuana , pseudônimo de Elídio Ermelinda Vilanculo. Poeta e
escritor por vocação, participou em várias antologias nacionais e
internacionais, destacando a "Coletânea
Ocaso" organizada pela Massinhane Edições e a Comunidade Ressonâncias
Literárias, na qual é membro interno, incumbido de cargo de Coordenador Geral.
Dedica-se profissionalmente como Designer Editorial, e é completamente apegado
à literatura, com expectativa de contribuir positivamente na arte, cultura e
educação.
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