Aos meus amigos, G.J.G.I
Para mim, uma feira de livro é um espaço para as novas propostas editoriais se deixarem cirandar pelos olhos do público, se deixarem acariciar às pressas em todas as mãos rugosas e macias. Os expositores têm este defeito quase natural de expor inúmeros exemplares do mesmo livro pelo público; em condições desastrosas como nesta última feira a que tomei parte onde havia um stand de alface e tubérculos
(a mandioca, apesar da fome, foi saborosa)
e o mestre da cerimónia disse: bem-vindo a feira agrícola, antes de receber a correção dos ouvidos para dizer feira de livro
sim, era qualquer coisa
de feira mista, pareceu-me.
Assim que se calava o mestre da cerimónia, o gestor do som explodia o silêncio com uma música de estremecer o chão, e agitava a cabeça como um espantalho mágico, e os dedos como um trapezista faziam gincanas nas bobinas da mesa do som
(uma feira de livro assim com alface e ruído da música jamais vista)
precisamos repensar as nossas feiras de livros
e o expositor,
os livros são sensíveis. uma gota só destrói toda a obra
O silêncio regressou com a chegada do chefe por baixo do guarda-chuva
e passou cirandar os olhos pela pilha livros esborrifado de gotículas de chuva miúda que caía sob os gazebos, e foi à tribuna encorajar os pais, mães e jovens a comprar livros para ler
(quanta incongruência, excelência)
e se tivesse comprado alguns livros e com eles perfilar na sessão fotográfica que os lacaios da midia tem feito, não seria isto a melhor maneira de sensibilizar aos pais e ao público a comprar livros para incentivar o gosto pela leitura aos filhos?
Já com tantas edições, as nossas feiras de livros continuam desastrosas, onde os escritores são levados ao acaso sem nenhum projecto à vista para desenvolver durante a feira
(como não melhoram as nossas feiras de livros)
Assisti nesta feira, ainda sinto este arrepio na pele, uma salada de sujidade em páginas de livros. A gente ia vasculhar a mandioca e alface em primeiro, e depois enfiávamos as mãos em livros
(a quanto foram as vendas, a propósito?)
e por que não podemos expor o mesmo exemplar como símbolo em todas feiras para além daquela charada de fuçar a todos exemplares a mãos sujas?
precisamos repensar as nossas feiras de livros, camaradas
ou ainda queremos perpetuar a nossa pobreza (da dinâmica do livro e leitura)!
Não tenho muito a comentar, apenas confirmar que o Alerto não se permite lamber com a língua as botas, estou mesmo convencido.
ResponderEliminarBelo trabalho!