Avançar para o conteúdo principal

Apresentação de Retroalimentações do ego por Babau no Centro Cultural Palavras e Sol

 




Meus caros, 

Aspiro contagiar as demais pessoas para que sejam fiéis cada qual à sua perspectiva” (Ortega) 

J. F. Jeremias 


A retroalimentações de ego é um atelier onde se funda a palavra, forma e conteúdo. Atrevo-me a chamar de catarse do ego em tempos climatéricos e crise da poesia em que nos encontramos na actualidade.

Nesta perspectiva, Elísio Miambo convida-nos a um passeio lírico, não sei se o deveremos fazer pelos pés, ou pelas mentes (envolvendo todos os sentidos), ao que não posso levantar a questão de voar como pássaros, pois, estamos desprovidos de asas. Mas quem sabe se a nossa mente se assemelha aos pássaros no ninho: podemos voar pela mente, podemos passear pela mente, vendo e revendo o que há de normal e anormal nos nossos street, no EU (ego) de cada um que está aqui, presente e dos vizinhos que os deixamos em casa, nos bairros. 

A humildade com que o poeta se apresenta, a de assumir ausência de arte nele, como mostra o texto: pássaros no ninho, só lhe revela uma personalidade poética coesa e coerente no seu interior e no da obra contrariando tal afirmação assumida nos versos a seguir: e eu pergunto a vocês, se estão prontos para mais uma jornada de terapia da indiferença social através da poesia do Miambo

ELÍSIO MIAMBO 


(…)

Pronto para mais uma jornada poética,

falta de arte noto em mim, tristemente!

Labirintei-me nas frases que a vontade suplica:

o excesso delas torna-me demasiado vacilante!

Na luz, na escuridão, até na alvorada cinzenta,

encontrei o vazio da fúria e arte poéticas.

Talvez estejam no silêncio absoluto, em falta,

nestas aldeias modernamente aglomeradas.

(…)

Este jeito de colocar a sua poesia pretende ser original com uma personalidade própria, ao que se chama temperamento artístico na perspectiva do crítico português José Régio.

Diz ainda o autor que (…) a excentricidade, a extravagância e a bizarria podem ser poderosas - mas só quando naturais a um dado temperamento artístico. Sobre estas qualidades, o produto desses temperamentos terá o encanto do raro e do imprevisto (…). No meu entender é disto que o poeta Miambo busca trazer na sua empreitada artística a raridade com que apresenta os problemas sociais com uma liberdade segurada pela simplicidade da sua poesia.

Magus Representante da editora Kulera 


O Ser – o tempo – vida (raciovitalismo – razão vital) na Obra de Elísio Miambo numa perspectiva de José Ortega y Gasset

Se entendermos que não há uma realidade na vida humana que esteja separada do sujeito vivente, pois, todas as demais realidades só ganham sentido na relação com a vida humana, outrossim, podermos entender que a poética de Elísio Miambo numa leitura profunda chama-nos a reflectir sobre os diversos ângulos da vida, seja ela  vista como um território indefinido de relações complexas ou sobre a consciência de sermos o nós numa sociedade em que se quebram as fronteiras do humanidade em nossas relações. É uma poesia de vida para vida com recurso a ressuscitação do passado como base do seu olhar Eu-lírico a sociedade e o retorno (feedback). A este modo de entender a obra de Miambo nos remete ao que Ortega y Gasset chamou de – raciovitalismo – razão vital - como acontecimento marcado por experiências que anelam o presente e o passado, o indivíduo e a sociedade, como pode se ler os poemas dos: livro 1: fotografias; livro 2: repatriação de afectos e desafectos; livro iv: pedaços de sol e luar na alvorada

Compreende-se o homem como cosmopolita capaz de produzir cultura e de realizar formas ideais válidas para toda a humanidade.  

A este modo grotesco que nos impomos à vida, Miambo surge e ressurge como um espectador que nos lança à mão a bóia para a nossa salvação, e se empenha em buscar a verdade através de uma linguagem criativa, simples e incisiva apontando, denunciando as nossas mazelas e azáfamas que enfermam a sociedade, como pode se perceber nas seguintes estâncias do texto  

Mundos & Mundividências

Lanço os meus olhos a estas vidas:

só sofrimento e dor revelam-me;

só fome e sobrevivência mostram-me;

além das glórias campestres por si vividas. (E. M)

Aqui, os modos visualizam vivências seculares

Que oprimem e escravizam mulheres,

fazendo-as prestar vassalismo,

a um cônjuge que, pela vaidade e honra, é polígamo.

Ergo a cabeça, vejo utopias,

vícios, desperdícios, melancolias,

arranha-céus que arquitectam delirantes

miragens em todas inocentes mentes.

É o mundinho dos nobres,

outros com mentes pobres

depravadas, poluídas cegamente,

pelo materialismo: francamente!

(…) 

A astúcia dos meus olhos é tão extrema,

que nem os mais discretos escondem deles,

a ganância inescrupulosa que há neles,

e a paixão pela futilidade que é suprema.

Lágrimas poetizadas

Suspiros de mágoa assumem a dianteira,

quando vadio sem destino nestas ruas,

trajadas de negro, mestiço e de branco,

nesta terra onde mais se misturam os genes

e menos os memes…

Que triste!

Vejo rostos conterrâneos falando de fome,

outros falando de fartura e desperdício.

Vejo músculos por cima de um andaime,

falando de extrema insegurança e sacrifício.

Vejo desertos personifcados nas maiorias

que gritam silenciosamente em seus verdes campos,

Vejo rios e oceanos personifcados nas minorias

individualistas, outros com desertos abstractos.

É meio-dia!

Estou indiscretamente comovido com a atenção

dos patrões para com seus bichos estimados,

Quem dera que esta incondicional preocupação,

fosse também dirigida aos que menos têm!

Num mercado ao lado, oiço vozes que falam:

são as mamanas que poetizam suas lágrimas

em forma de desabafo do labirinto em que estão,

com rostos mais atrofados que suas hortaliças.

(…) 

Mas a poetisa Maria João Cantinho, faz-nos uma questão simples, frenética, provocadora em relação ao que Miambo nos instiga nos poemas “Mundos & Mundividências & Lágrimas poetizadas” da seguinte maneira: Pode um homem sonhar, ainda, enquanto as asas do mal o assaltam?

Seguramente, a lira contida no âmago da retroalimentações de ego responde a questão colocada pela Maria, no poema O convite, por exemplo diz-se em alguns versos: Hoje, a terra chama urgentemente por nós, chama por mais um 8 de Março para lapidar riquezas (…). Ao que é deveras um antídoto a sua aquisição e leitura em diferentes estacões, paragens da nossa vida. Quem dera que esta incondicional preocupação, fosse também dirigida aos que menos têm! (E. Miambo)

II

Portanto, que se entenda, a poesia contida na Retroalimentações do Ego e o Eu do autor, não se separam da circunstância e são ambos, fundamentais para pensar a vida no entendimento do Eu como um sujeito abstracto e indefinível de múltiplas relações com o meio, isto é, o meio exterior e as características do organismo: tanto físicas quanto psicológicas do Eu. 

Como diz Carvalho, a Circunstância passa a ser tudo o que rodeia o Eu: a realidade cósmica, a corporalidade, a vida psíquica, a cultura em que se vive, nela incluída também as experiências acumuladas no tempo. A vida é o que cada pessoa faz com a circunstância, vida é realidade radical que aproxima o Eu e a circunstância. Destarte, a aproximação que nos referimos, pode ser sentida em alguns textos como por exemplo: Subversão

A Retroalimentações de Ego ganha o seu valor social ao se encontrar a sua face no miolo da filosofia de José Ortega y Gasset expressando a fórmula que sistematiza a sua filosofia de maneira artística, ao afirmar que eu sou eu e minha circunstância – diz o filósofo. É desta forma que Miambo une o Eu (Ego) e as circunstâncias (vida cotidiana). Portanto, a realidade vital é a vida, eu estou aqui no meio de muitas coisas: sentimentos, ideias, valores, época, sociedade, com as quais permaneço em relação enquanto vivo. Eu e circunstância interagem e se completam. A vida é o resultado desta relação, mas não se confunde com ela, eu e circunstância só se deixam ver de verdade na vida que é a realidade concreta e real (Carvalho).

fotografia família no C. C. PALAVRA E SOL


Sobre o tempo (história) na Retroalimentações do Ego

O homem encontra-se vivendo a uma altura determinada dos tempos: a certo nível histórico. A sua vida é feita de uma substância peculiar, que é o seu tempo (…) a história tem uma estrutura precisa, que é a das gerações. Cada homem encontra um mundo determinado por um reportório de heranças, ideias, usos e problemas.

Elísio Miambo encontra (ou encontrou) um caminho, uma forma pedagógica através da Retroalimentações do Ego para identificar os problemas da nova geração: como por exemplo, o recuo da geração para a vanguarda dos problemas que imperam o desenvolvimento social à semelhança de geração 8 de Março que liderou o desenvolvimento quando o país necessitou, ao que nos acena o convite para tal; talvez seja o medo que nos aprisiona – reféns do medo. 


O passado permanece connosco, algumas vezes parece morto, mas está apenas adormecido. Quando as exigências do presente reduzem a sua urgência, o passado volta e mostra sua face. Por exemplo, o convívio é minado pelas redes sociais como mostra o poema reféns do medo.

O progresso verdadeiro é a crescente intensidade com que percebemos meia dezena de mistérios cardeais que na penumbra da história latejam confusos como perenes corações. Cada século, ao chegar, traz uma sensibilidade peculiar para alguns destes grandes problemas, deixando outro como esquecidos ou aproximando-se deles toscamente

Viver no tempo não significa reduzir o passado a algo que só tem sentido em função do presente e só se compreende pela actual geração. As categorias de vida e de história dialogam pelo conector da existência que é a vida humana.

 

Imagem panorâmica 

O convite

Ontem, homens colectivamente inconformados,

devastaram matas, arriscando o que não tinham

em seus cérebros, nem peitos doloridos,

para trazer um 25 de Junho que tanto desejaram.

Carregando incontáveis acessórios,

com diferenças regionais ultrapassadas,

unidos em ideais, que não eram vários,

tornaram-se em gentes libertadas.

Arvoraram véus de cinco cores,

onde nunca tinham estado como gente,

entoaram xithokozelos em seus mas alheios altares,

com vozes de timbre ardente.

Atenderam aos clamores que a terra fazia,

edificaram com sagacidade os sustentáculos

da pátria, que desesperadamente pedia,

em seus, outrora alheados solos.

Hoje, a terra chama urgentemente por nós,

chama por mais um 8 de Março para lapidar riquezas,

milenarmente brutas, que estiveram entre motivos,

da permanência de desnaturados em nossas trincheiras.

Hoje, a terra chama pela força deste povo,

que em pleno conchego da imensa escuridão,

fina-se às migalhas do seu eleito servo,

e aparta-se das riquezas do sertão.

Reféns do medo

É domingo:

procuro um coração branco

entre ruas e avenidas deste santuário do abismo,

mas só com malumes da impureza me deparo,

sabendo, oh! como sabem as delícias do urbanismo!

Ali defronte…Sim ali,

vejo mufanas da street:

os sorrisos lambuzam seus lábios,

devem ser brancos os corações desta gente!

Oh! Que pena!

A exclusão tornou-lhes perversos!

Enjaulados, vejo rostos inocentes nas vivendas.

Parecem brancos os corações destes habitantes

dos facebooks, youtubes e whatsapps…

Oh, internautas!

Se viver é conviver, eis a internet: o viver dos

ex-independentes!

Neste lugar, as sentenças do medo

encarceraram mufanas e nuanhanas em videogames…

Oh! websites!

Eu vejo naqueles olhos:

quereres proibidos de sentir o que sentiram,

viver o que viveram nas ruas das cities…


Coitados! Alguns nasceram lá…

entre as paredes mortas.

Se quer sabem saber a liberdade, a recreação…

Ah! Os machucados também!

Sim, machucados!

Afnal, é nisso que resulta a recreação!

Ah! Dêem-se vida,

Oh! Viventes da sobrevida!

Eu quero que vivam a vida num espaço além do

virtual.

E as social networks?

Ah! Que fquem para os malumes da impureza!

Pois lá vamos nós, sim lá vamos nós…

sentir e viver as primazias dum viver vital!

 

Nem as vivências dos que a consomem?

 Diz Ortega que “As coisas estão aí, diante de nós, oferecendo-se ou servindo-nos”, e para nós, Miambo nos oferece retroalimentações de ego para nos servir, tal afirmação me permite dizer que esta obra é e deve ser uma paragem obrigatória, obra de cabeceira, por isso a sua aquisição é urgente. 


Sobre a singularidade da obra de Elísio Miambo:

É o lado de dentro que mais marcadamente diferencia os homens de diferentes grupos… 

Outro aspecto da circunstância que diferencia o olhar do eu é o momento histórico. O homem ordinariamente busca o prazer e evita a dor “os homens se preocupam mais em buscar prazeres que evitar as dores, mas outras vezes ocorre o inverso”

A terra influi no homem, porém o homem não é um ser reactivo, sua resposta pode transformar a terra em torno”. O que marca a personalidade e singularidade poética de Elísio é a capacidade de tirar a camisa da indiferença, da insensibilidade social, dando a voz os que não têm voz, e chamar a atenção aos que têm a voz mais (criar ruido), ou, porque dão voz quando não é para dar voz. Lê-se o poema, por exemplo Lágrimas poetizadas.


Sobre a morte e a figura feminina (mulher) no livro de Miambo

A humanização da morte só pode consistir em usar dela com liberdade, com generosidade e com graça. Sejamos poetas da existência que sabem ajustar sua vida a rima exata em uma morte esperada” desta feita, o poeta o faz em poemas como "Falas de vida e morte" ; "Morte querida"


Na mulher, o que mais encanta não é a elegância das veste e das atitudes, mas a riqueza do íntimo construído em horas de solidão ou mergulho em si, esclarece o pensador: “A mulher admirável que agora nos preocupa revela em todo seu ser um tesouro composto das horas de solidão” a importância da herança que as gerações recebem. Sobre isso, o poeta nos faz a seguinte questão: Com quantas mentiras se faz um grande amor? Miambo através da sua poesia imagética mostra-nos a segregação aguda das nossas relações sociais, do amor nesses últimos tempos, o amor vertendo,  comercializável e reduzido a bens materiais, ao que diz nkatanga não me peça incondicionalismos…é uma denúncia cuja atenção deve ser dada por nós todos. 

Sobre a arte (literatura) na Poesia de E. Miambo

Não vou me alongar acerca disso sobre o risco de desconstruir a temática exposta no último livro (Livro V: ensaiando a Literatura), é muito óbvio que o poeta nos elenca um ensaio literário em forma de poema, levantando os aspectos da arte como sendo algo a ser vigiado quanto ao deve ser e o que devia ser, pois é isenta de padrões ou regras expostas e impostas a serem seguidas pelos artistas dada as características de singularidade, ambiguidade no fazer e na interpretatividade de cada um. Por isso, para o poeta a arte não deve ser policiada. Um outro aspecto a se deter da poesia de Miambo neste último livro é questão de conteúdo e a linguagem criativa na construção do texto, que deve  haver o equilíbrio de ambos. O fundamento é de a arte deve servir as pessoas que a precisa, não  obstante a sua inutilidade a essas pessoas, pois não valeria por nada, ao refutar a ideia de  “arte pela arte”, ora vejamos o texto que se segue abaixo:

Arte pela arte 

Mesmo que a literatura

valha menos pelo dito

e mais pela forma como o dito é dito,

é imperativo dar algo além do prazer

aos que lêem os nossos ditos...

De que vale a arte

Pelo simples facto de ser arte

Se não modaliza a vida


Para terminar, detenho-me a ideia de que a poesia de Miambo é uma terapia da indeferência social e um convite para se repensa a ideia de “arte pela arte” e servilismo da arte no sentido de ela “mobilizar a vida” na sociedade. Por isso, apelo e recomendo a sua aquisição com a máxima urgência para leitura aprofundada e seguradora. 

Quem dera que esta incondicional preocupação, fosse também dirigida aos que menos têm! (E. Miambo).



Por: Babau (Jeremias F. Jeremias) 



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Basta, Agualusa! - Ungulani Ba Ka Khosa

À  primeira perdoa-se, à  segunda tolera-se com alguma reticência , mas à  terceira, diz-se basta! E é  isso que digo ao Agualusa, escritor angolano que conheço  há mais de trinta anos. Sei, e já  tive oportunidade de o cumprimentar por lá, onde vive há anos num recanto bem idílico da Ilha de Moçambique; sei que tem escrito tranquilamente nessa nossa universalmente conhecida ilha; sei, e por lá passei (e fiquei desolado), que a trezentos metros da casa de pedra que hospeda Agualusa estendem-se os pobres e suburbanos bairros de macuti (cobertura das casas à base das folhas de palmeiras), com  crianças desnutridas, evidenciando carências  de gerações de desvalidos que nada beneficiaram com a independência de há 49 anos. Sei que essas pessoas carentes de tudo conhecem, nomeando, as poucas e influentes famílias moçambicanas que detém o lucrativo negócio das casas de pedra, mas deixam, na placitude dos dias, que os poderosos se banhem nas águas  do Índico, deleitando-se com “selfies” e enca

“Amor como caminho de crescimento” em “Amei para me amar”, de Nyeleti - PPL

  Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.   É um não querer mais que bem-querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.   É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. — Soneto de Luís Vaz de Camões (p.31)   Livro “Amei para me amar”, da escritora Nyeleti, é uma obra que transcende os limites da literatura, emergindo como um importante documento que mescla a literatura, a sociologia e a psicologia. Será um livro de auto-ajuda? Um depoimento? Não cabe a mim dizer, mas a sua estrutura em muito  me lembrou os Doze Passos para o tratamento do alcoolismo, criado por Bill Wilson pelo Dr. Bob S. Dividido em 13 capítulos temáticos, como “Todos somos falhos”, “Quando e como amamos demais”  e “Por que dou mais do que recebo?, o livro se revela uma janel

Uma vista às eleições gerais de 2024 - Ungulani Ba Ka Khosa

Para quem, como eu, tem acompanhado, ao longo de mais de quarenta anos, como professor e, acima de tudo, escritor, o percurso da Frelimo, em tanto que Frente de libertação de Moçambique e, subsequentemente, como Partido de orientação marxista,  desembocando em Partido sem estratégia ideológica, estas eleições não me  surpreenderam de todo. Ao acompanhar a leitura dos resultados feita pelo Presidente da Comissão Nacional de Eleições, veio-me à mente a durabilidade no poder de um outro partido do sul global, o PRI (partido revolucionário institucional), do México,  que esteve no poder entre 1929 e 2000. 71 anos no poder. Longo e asfixiante tempo! As críticas  que se faziam, nas sucessivas eleições, centravam-se na fraude eleitoral, na sucessiva repressão contra os eleitores, na sistemática violação dos princípios democráticos, na falta de lisura no trato da coisa pública. Tal e qual a nossa situação. A propósito, o grande Poeta e intelectual mexicano Octávio Paz, dizia, com a linguagem q