Craveirinha, conceituado poeta moçambicano, um dos que não se vergou diante das mazelas sociais, traz-nos no poema Hino à Minha Terra o seu humor característico, patriótico, empático e filantrópico, sem deixar as marcas da africanidade e negritude constantes em sua poesia. O poeta-mor, inicia-se no poema demonstrando-nos a sua compaixão pelos Homens, o amor pela terra e o universo à sua volta, ora vejamos:
O sangue dos nomes
é o sangue dos homens.
[…]
Coloca-se não como um
observador e ou emissor de opinião contra a exploração do homem pelo homem
apenas, mas como quem vive cada dor, tristeza e desalento do seu tempo. Faz fé
de que o seu sangue é o mesmo sangue dos Homens. A sua dor é a mesma dor que o
Homem sente. Como não, se ele também nascera Homem.
E ao conceber-se um
nome, concebe-se a existência. Se há Craveirina é que existe quem assim se nomeou.
A aniquilação de um nome é também do seu dono. Só é capaz de aniquilar o outro
quem não ama. Quem talvez nome não mereça. A denúncia de Craveirinha é
evidente:
[…]
Suga-o tu também se és capaz
tu que não nos amas.
[…]
É evidente que o
poeta-mor vive essa dor no texto. Sangra e sofre. Queixa-se da falta de amor
pelo próximo e está reflexão atemporal induz-nos a repensarmos seriamente nas
relações interpessoais, nos valores intrínsecos da humanidade que vamos construindo
no nosso dia-a-dia.
O homem é um ser social,
dir-nos-ia Aristóteles, consequentemente, como o poeta-mor podia estar insensível
a isso? (…) Suga-o tu também se és capaz
/tu que não nos amas.
O poeta nos confronta
sobre o nosso lugar de pertença. Sobre a solidez das nossas relações. Diz-se
patriota, activista, homem universal e ama-se a si como indivíduo, e se se ama
a si como indivíduo, ama o outro também. É um exercício necessário de se fazer,
sobretudo nestes dias em que os valores sociais estão agastados.
[…]
Amanhece sobre as cidades do futuro.
E uma saudade cresce no nome das coisas
e digo Metengobalame e Macomia
e é Metengobalame a cálida palavra que os negros inventaram
e não outra coisa Macomia.
[…]
Nesta passagem emite-se
a foz identitária, “a cálida palavra que os
negros inventaram”. Qual palavra? A Saudade? O Futuro? O Amanhecer? Certeza
há de que há um negro por detrás em clamor. É praticamente um dos maiores
dilemas da sociedade a inferiorização dos homens por conta da cor da sua pele.
Os negros, umas das maiores vítimas do segregacionismo racial desde a era
colonial. E pior, foi tê-lo negado a legitimidade da sua cultura e condenados
ao abismo. Mas Craveirinha diz-nos que não, enquanto houver poesia eu cantarei:
“Metengobalame e Macomia e é Metengobalame
a cálida palavra que os negros inventaram e não outra coisa Macomia”. Pode se
fazer um paralelismo com o poema da Noémia, SE QUISERES ME CONHECER, no excerto
seguinte:
Se me quiseres conhecer,
Estuda com olhos de bem ver
Esse pedaço de pau preto
Que um desconhecido irmão maconde
De mãos inspiradas
Talhou e trabalhou em terras
distantes lá do norte.
(…)
Craveirinha levanta a
sua voz para condenar esse desaire que subjuga a terra em que nasceu e o seu
povo. É com palavras que se nega a ser silenciado:
E grito Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!! E torno a gritar
Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!
E outros nomes da minha terra afluem doces e altivos na memória
filial e na exacta pronúncia desnudo-lhes a beleza.
A voz do povo se
absconde nas entrelinhas do poeta que incita o amor à pátria, a origem, a
riqueza e à beleza:
E no luar de cabelos de marfim nas noites de Murrupula
e nas verdes campinas das terras de Sofala
a nostalgia sinto das cidades inconstruídas de Quissico
dos chindjiguiritanas no chilro tropical de Mapulanguene
das árvores de Namacurra, Muxilipo, Massinga
das inexistentes ruas largas de Pindagonga
e das casas de Chinhanguanine, Mugazine e Bala-Bala
nunca vistas nem jamais sonhadas ainda.
Oh! O côncavo seio azul-marinho da baía de Pemba
e as correntes dos rios Nhacuaze, Incomáti, Matola, Púnguè
e o potente espasmo das águas do Limpopo.
E o que mais definiria
Craveirinha se não poeta do povo. Aquele que sua seiva for exprimida pelo amor
a terra e ao próximo.
Jeconias Mocumbe
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